O que para maioria das pessoas é um amontoado de fezes torna-se para os investigadores do Microbiota Vault uma oportunidade para proteger a saúde da humanidade e lutar contra a extinção em massa de centenas de espécies. “Os últimos estudos têm associado o desaparecimento de certas espécies de bactérias e fungos da microbiota a doenças como a obesidade ou a diabetes, entre outras”, explica Luís Teixeira, investigador do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC) e da Universidade Católica Portuguesa, que também participa no projeto internacional Microbiota Vault.
O IGC começou a colaborar com o Microbiota Vault em 2019, na sequência de outros projetos desenvolvidos com Maria Gloria Dominguez-Bello e Martin Blaser, investigadores da Universidade de Rutgers, dos EUA, e dois dos mentores desta iniciativa internacional. Além de Luís Teixeira, o projeto conta com a participação de Karina Xavier, que também é investigadora no IGC.
A função dos dois investigadores tem incidido especialmente na captação de parcerias similares à que permitiu lançar um primeiro ensaio que está em curso com populações nómadas da etiópia. Como é que comunidades de pastores que são dominadas por costumes ancestrais contribuem para o avanço da ciência? A resposta é: fornecendo amostras de fezes de crianças que são remetidas para os laboratórios da Universidade de Zurique, que as armazenam a 80 graus negativos.
Foi precisamente para alargar a recolha de amostras que os investigadores do IGC levaram a cabo, no início de 2022, uma ação de captação de parcerias em África. Para os próximos tempos, prevê-se o lançamento de ações similares na Ásia. Em todas estas iniciativas há um objetivo comum: encontrar grupos populacionais que ainda mantêm dietas, hábitos de higiene ou práticas medicinais ancestrais e que estejam dispostos a doar periodicamente amostras de fezes de humanos para um repositório que um dia poderá servir de fonte de micro-organismos benéficos para a saúde que, entretanto, deixaram de existir nos intestinos dos humanos.
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