41 grandes personalidades que nos deixaram em 2022, de quem vamos sentir falta (na maior parte)
No ano da morte de Isabel II, partiu também Mikhail Gorbachev, José Eduardo dos Santos e o primeiro-ministro em funções no Japão. Por cá, perdemos Paula Rego, assim como a eterna Eunice, ou Ana Luísa Amaral. Mas a lista dos que nos deixaram em 2022 tem muitos mais notáveis, que ficarão na história coletiva. Aqui, lembramos 41 deles, alguns, muitos, com saudade
Na política nacional e internacional, houve um bom número de ex-chefes de Estado e governantes que nos deixaram. Nenhum terá tido tantos efeitos em tão pouco tempo como Mikhail Gorbachev, o homem que tentou assegurar a continuidade do sistema soviético reformando-o, e em vez disso destruiu-o, para benefício do mundo, embora não de muitos dos seus compatriotas, pelo menos no imediato. Gorbachev faleceu aos 91 anos após uma longa doença e não teve direito a funeral de estado, uma decisão do atual Presidente russo, que em tempos considerou o fim da URSS a maior catástrofe geopolítica do século XX.
A outro nível, o ano foi marcado pela morte de Isabel II. Embora não tivesse o poder de um chefe de governo, as suas sete décadas de reinado consolidaram a estabilidade da monarquia na Grã-Bretanha, não obstante os escândalos dos anos 90 e a morte da princesa Diana, que acabaram por se revelar abalos temporários para a família real. Numa vida irrepreensível, o dever estava sempre primeiro. Exemplo perfeito disso foi a imagem da rainha de pé a dar posse a uma nova primeiro-ministro exatamente três dias antes de falecer (confirmando que tudo na vida é transitório, Liz Truss durou umas escassas semanas no cargo).
O assassinato do ex-primeiro-ministro japonês Shinzo Abe foi um evento raro e chocante num dos países mais pacíficos do mundo. Durante uma ação de campanha em Nara, Abe foi morto a tiro por um homem que o acusava de ter promovido um culto religioso que arruinou a sua mãe. Menos surpreendente foi a morte do ex-Presidente angolano José Eduardo dos Santos - ele estava internado há bastante tempo - mas representou o fim de uma época. O seu funeral deu origem a polémicas, com parte da família a opor-se aquilo que viu como uma apropriação da figura do ex-Presidente pelo atual governo do país.
Jiang Zemin, Leonid Kravchuk, Francisco Morales, Luís Echeverría e Fidel Ramos foram outros antigos chefes de Estado que desapareceram em 2022. Mas a política não se faz só de políticos profissionais, e não podemos esquecer Madeleine Albright, a diplomata e professora americana que se tornou secretária de Estado de Bill Clinton.
Em Portugal é incontornável a figura de Adriano Moreira, o advogado, professor e ex-ministro de Salazar. Moreira, que tinha estado preso antes de ser governante e se demitiu por não concordar com a política colonial de Salazar, fez uma transição tranquila para o regime democrático, tendo chegado a dirigir o CDS-PP. Partiu aos cem anos.
Fora da política, em 2022 Portugal perdeu algumas das suas figuras de topo. Paula Rego era sem dúvida a pintora portuguesa com mais projeção internacional, e as suas imagens inquietantes vão continuar a assombrar o nosso imaginário.
No teatro, temos de referir Eunice Muñoz. Falecida meses depois de regressar ao palco do Teatro Nacional D. Maria II, onde se estreara em 1941 com treze anos, a actriz era uma figura querida não só no seu meio como em todo o país, graças a uma multifacetada carreira teatral e à sua participação em novelas.
Outros atores desaparecidos foram Sidney Poitier, o primeiro negro a receber o óscar de melhor ator, Angela Lansbury ("Crime, Disse Ela"), Jean-Louis Trintignant ("E Deus Criou a Mulher", com Brigitte Bardot), William Hurt, Olivia Newton-John e Anne Heche. Ainda no cinema, o realizador Jean-Luc Godard recorreu ao suicídio assistido para pôr fim ao cansaço que o afligia. Tinha 92 anos, a mesma idade do seu colega Alain Tanner, igualmente falecido na Suiça em 2022.
Na música popular, os nomes a destacar incluem Gal Costa, expoente do tropicalismo, cantora versátil e, para milhões de portugueses, a voz que nos apresentou Gabriela na primeira novela brasileira exibida em Portugal; o pioneiro do rock and roll, Jerry Lee Lewis ("Great Balls of Fire", "High School Confidential"); e ainda Meat Loaf, um artista de voz poderosa que o “New York Times” em tempos designava por Mr. Loaf, aparentemente sem ironia. Na clássica refira-se a mezzo-soprano Tereza Berganza, uma das grandes cantoras de ópera do pós-guerra, associada ao revivalismo rossiniano e a papéis como objetivo de Carmen. Na arte pianística, o ainda jovem Lars Vogt perdeu a batalha contra um cancro. Entre os compositores Ned Rorem, mestre da canção e da prosódia, morreu aos 99 anos em Manhattan.
Na literatura, duas perdas substanciais foram as da poetisa Ana Luísa Amaral e da escritora Maria Manuel Viana. Além da obra própria, ambas eram igualmente conhecidas como tradutoras. Do Brasil chegou a notícia da morte de romancista Lygia Fagundes Teles, aos 103 anos. E porque o humor também pode ser literatura, lembrem-se P.J. O'Rourke, o jornalista e satirista americano, e Jô Soares, o comediante e escritor brasileiro.
A ciência regista a morte de Luc Montaignier, o virologista francês que identificou o vírus da imunodeficiência adquirida e recebeu o Nobel da Medicina por isso. Infelizmente, nos últimos anos Montaignier tornou-se defensor de teorias da conspiração sobre a origem da covid-19.
No futebol, perdemos Fernando Gomes e Fernando Chalana. O primeiro, cuja carreira ficou associada ao Futebol Clube do Porto, foi várias vezes o melhor marcador do campeonato nacional, contribuindo para o clube vencer taças nacionais e internacionais, e ganhou duas botas de ouro da UEFA - donde a alcunha 'bibota'.
De Fernando Chalana disse-se muitas vezes que era "o pequeno genial" ou o Chalanix, numa alusão ao bigode, à estatura relativamente baixa (para jogador de futebol) e à alegada parecença com Asterix, bem com ao facto de ter ido jogar para França. Do que nunca se duvidou foi da sua habilidade técnica, que prestou serviços importantes ao Benfica e à seleção nacional. Para a pequena história fica uma memória de juventude recentemente evocada por Futre, quando tentava imitar as fintas do benfiquista no cacilheiro que o trazia do Montijo para Lisboa.
Sem ordem específica e ocupando lugares muito diferentes no contínuo do bem e do mal: a jornalista e ativista americana Bárbara Ehrenreich; o estilista francês Thierry Mugler; a defensora dos direitos dos nativos Sacheem Littlefeather, famosa por ter substituído Marlon Brando na cerimónia dos Óscares em 1973; a modelo e empresária Ivana Trump, primeira mulher do polémico Presidente; o advogado Ken Starr, que dirigiu a investigação a Bill Clinton durante a sua presidência; e o terrorista Al-Zawahiri, um dos responsáveis pelo 11 de Setembro e sucessor de Bin Laden à frente da Al-Qaeda, abatido por dois mísseis americanos na varanda da sua casa em Cabul.
Por último, justifica-se recordar um homem que criava edifícios em vez de os destruir. Ricardo Bofill foi uma referência-chave da arquitetura pós-moderna em Espanha. Em 2021, o seu nome foi encontrado nos Pandora Papers. Não é a parte mais bonita nem original da sua obra, mas também não deverá ser aquela que os historiadores da sua área vão recordar no futuro.
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