Pode ser a abertura de mais uma porta no Sistema Nacional de Saúde, oferecendo outra alternativa a quem precisa apenas de aconselhamento por um profissional de saúde. As farmácias estão disponíveis para realizar testes rápidos para algumas das situações agudas mais comuns no inverno, facilitando a triagem, o encaminhamento dos doentes e, sobretudo, a redução de casos ligeiros nas urgências.
Com a testagem nas farmácias, à semelhança da estratégia que vigorou durante a pandemia, seria possível identificar os doentes ligeiros que não carecem de atendimento médico, sobretudo hospitalar, e que podem permanecer em autocuidados no domicílio, por exemplo, apenas com medicação de suporte. Nos restantes quadros, as farmácias fariam o encaminhamento para as restantes portas de acesso, à semelhança da intervenção atual da linha SNS24, para o centro de saúde ou para a Urgência hospitalar.
A proposta da Associação Nacional das Farmácias (ANF) é sustentada pelos resultados obtidos durante a pandemia, com a disponibilização dos testes de antigénio de uso profissional. A avaliação feita pelo Centro de Estudos e Avaliação em Saúde CEFAR e apresentada na quinta-feira revela que a participação das farmácias comunitárias foi preponderante. Permitiu, a título de exemplo, que as populações das zonas mais rurais tivessem acesso aos testes. Sem a rede de farmácias, teriam sido 192 (69,1%) os concelhos cobertos; com as farmácias,foram 266 (95,7%), abrangendo 99,3% da população residente. Mais: em janeiro deste ano, 90% dos testes rápidos de antigénio de uso profissional eram realizados nas farmácias. A população refere ainda um elevado nível de satisfação com a intervenção da rede de farmácias e 74,4% refere até que, caso não pudesse fazer o teste numa determina farmácia, iria a outra.
A possibilidade das farmácias participarem na triagem prévia de doentes típicos de inverno é ainda alargada a áreas como a deteção precoce do VIH e das hepatites. “Queremos aumentar a rede e a capilaridade das farmácias com acordos com o SNS para outros testes além da covid-19, como VIH e hepatite, e ter uma maior intervenção nas afeções menores como porta de entrada no SNS, em parceria com a linha SNS24”, explica a presidente da ANF, Ema Paulino.
A farmacêutica afirma que há exemplos de sucesso. “Há experiências internacionais no Reino Unido, França, Irlanda ou Bélgica, onde existe o conceito de farmacêutico de família. Nos EUA e na Austrália é feita até uma contratualização direta com as farmácias sobre os serviços a prestar.”
Ema Paulino adianta que o desafio já foi feito ao Governo: “Apresentamos uma proposta ao anterior executivo para a testagem de afeções menores e também já falámos com o novo ministro, Manuel Pizarro, e com a secretária de Estado da Promoção da Saúde, Margarida Tavares, e houve recetividade.”
Presente na apresentação do estudo do CEFAR, o ministro da Saúde fez saber que, para já, o foco é cumprir as duas medidas incluídas no Orçamento do Estado para 2023: a renovação de medicação crónica e a dispensa de mais medicamentos de uso exclusivo hospitalar nas farmácias comunitárias. Ainda assim, afirmou que “a estratégia de saúde para Portugal valoriza as farmácias como parceiro do SNS, como parte” e que “essa é uma reconhecida evidência, pois muitas vezes são o primeiro ponto de acesso ao SNS”.
Sobre a triagem prévia nas farmácias, com testes rápidos, reconheceu que a ideia é boa: “As farmácias são um SNS24 sem telefone. Vamos tomando medidas num programa contínuo para nos dar legitimidade para dar os passos seguintes”.
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