16 dezembro 2022 8:44

TERAPIAS Diariamente, Rodrigo faz terapias que o ajudam a ganhar autonomia. O mais provável é que nunca possa deixar de as fazer, porque parar significa regredir
Rodrigo nasceu com malformação grave que não foi detetada na gravidez. Ficou conhecido como o “bebé sem rosto” e deram-lhe poucos dias de vida. Já tem três anos e o Expresso acompanhou-o durante meses
16 dezembro 2022 8:44
A simplicidade do pedido para desenhar a sua família desaparece quando Fabiana se senta à mesa com os marcadores e a folha em branco. Haveria de demorar quase uma hora. Agarra na caneta bege e, com o cuidado do artista que leva anos a aperfeiçoar a obra de arte, a menina de sete anos arrasta a tinta pelo papel até formar um círculo. Este será a cabeça da mãe: faz-lhe o cabelo a castanho, desenha a roupa e até uma mala. Depois, é a vez de David, que não é o seu pai mas é pai do seu irmão mais novo e também o homem que todos os dias cuida dela e brinca com ela. Quando termina, segue para o autorretrato. Com força, risca em espiral o seu cabelo; é a única com caracóis. Por fim, “o mano” — é assim que Fabiana fala sempre de Rodrigo. O rosto dele tem uma boca redonda em vez de um só traço arqueado em forma de sorriso. O meio triângulo que nela, na mãe e em David é o nariz não existe em Rodrigo.
O irmão de Fabiana é o mesmo menino que, há três anos, ficou conhecido como “o bebé sem rosto”, que nasceu com uma malformação na cara e no crânio sem que nada tenha sido detetado ao longo da gravidez. “As malformações do seu filho são incompatíveis com a vida”, ouviu Marlene Simão, a mãe, de 28 anos, logo nas primeiras horas de vida do filho. Passaram horas, dias, semanas e meses, chegou o primeiro aniversário, veio o segundo e festejaram todos juntos o terceiro, em outubro. Rodrigo Ribeiro está vivo e ninguém sabe muito bem explicar como.