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A família fez o funeral a Maria mas enterrou o corpo errado por falhas num hospital do Algarve. Não foi caso único

A família fez o funeral a Maria mas enterrou o corpo errado por falhas num hospital do Algarve. Não foi caso único
Jacky Lam / EyeEm

Os erros na morgue do Centro Hospitalar Universitário do Algarve não são de agora e há pelo menos uma mão-cheia de casos reportados, quatro deles nos últimos cinco anos, o último dos quais recentemente e que levou o Ministério Público a abrir uma investigação. Este artigo conta a história de cada uma dessas trocas

A troca de dois cadáveres ocorrida esta semana no hospital de Faro - que o Ministério Público já está a investigar - foi a quarta situação do género conhecida nos últimos cinco anos, no Centro Hospitalar Universitário do Algarve. Há ainda um outro caso, mais antigo, de abril de 2009. Estas são as histórias de cada um deles.

A 13 de fevereiro de 2017, Maria Carvalho, de 87 anos, morreu no hospital de Portimão. Durante o velório, a família começou a suspeitar que o corpo que se encontrava no caixão não era o da idosa, mas a agência funerária explicou que as feições mudam quando uma pessoa morre e que a identidade tinha sido confirmada pelo hospital. O funeral foi, assim, realizado mas no dia seguinte o Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA) - que congrega os hospitais públicos algarvios de Faro, Portimão e Lagos - contactou a família. Tinha mesmo acontecido uma troca de cadáveres e quem tinha sido enterrado era outra mulher, de 80 anos, de Ovar. A administração do CHUA assumiu o erro e explicou que o corpo de Maria Carvalho ainda estava na morgue do hospital.

Dois anos depois, nova situação de troca de cadáveres nos hospitais algarvios, desta vez detetada e corrigida antes do enterro. Conceição Freitas morreu no hospital de Faro em outubro de 2019. A família reconheceu o corpo, ainda na morgue mas dois dias depois, no velório, verificou que era outro o cadáver que estava no caixão. Neste caso, a funerária ainda foi a tempo de desfazer a troca e o funeral acabou por se realizar com o cadáver correto. A família ainda ponderou avançar para tribunal, mas não o fez para não retardar o luto.

Passou menos de um ano sobre este caso quando, em maio de 2020, se deu uma nova situação semelhante, no hospital de Faro. Aconteceu com uma mulher de 76 anos e, desta vez, voltou a ser enterrado o corpo errado. Foi já depois do velório e do funeral, realizados em Olhão, que a família foi contactada pelo CHUA, a explicar que o corpo da idosa ainda estava na morgue. Na altura, a administração hospitalar lamentou o sucedido e referiu que tinha sido instaurado um processo de inquérito para apurar as responsabilidades.

A estes três casos mais recentes, junta-se outro, em abril de 2009. Nessa situação, tratou-se de um homem, de 84 anos, que faleceu no hospital de Faro. Foi mais uma vez durante o velório, também em Faro, que a família de António Batista, ao destapar o rosto, reparou que o corpo não era o do idoso. À comunicação social, a administração do CHUA explicou o erro por os dois homens (um com 80 outro com 84 anos) terem morrido no mesmo serviço do hospital e por ambos se chamarem António – mas reconheceu “a falha humana de um profissional que não fez a devida verificação”.

Agora, depois do caso ocorrido esta semana, a administração do CHUA adiantou que foi aberto “um inquérito interno”. E decidiu colocar os lugares à disposição. Ao mesmo tempo, o Ministério Público anunciou a abertura de um inquérito para tentar perceber onde ocorreu a falha.

Quando alguém morre no hospital, como foi o caso, ao cadáver é junto um documento que o identifica antes de ser enviado para a morgue. Aí, o procedimento para o levantamento dos corpos obriga a que o nome do morto seja dito tanto por quem está a levantar o corpo (seja uma funerária ou um familiar) bem como pelo funcionário que tem a responsabilidade de o entregar.

O caso aconteceu no passado domingo, 3 de novembro, e terá envolvido os corpos de um inglês e de um francês. O cadáver deste último acabou por ser indevidamente cremado enquanto à família francesa foi entregue o corpo do britânico.

O Expresso contactou a administração do CHUA que remeteu quaisquer esclarecimentos sobre o caso para o comunicado enviado às redações. Sobre os outros casos, enviámos uma série de questões, por e-mail, que ainda não tinham sido respondidas à hora da conclusão deste texto.

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