A possibilidade de existir uma relação direta entre a serotonina e a depressão clínica está há muito em debate, mas agora foi demonstrada a primeira evidência direta, por um grupo de cientistas do Imperial College London. Há quem defenda que é o início de uma nova grande descoberta nesta área, mas outros dizem não haver provas suficientes.
A serotonina, mais conhecida como “hormona da felicidade”, é um neurotransmissor que atua no cérebro na comunicação entre os neurónios. Segundo a psiquiatra e diretora clínica da Legismente, Sofia Brissos, “a serotonina existe no cérebro, no aparelho digestivo e nas plaquetas, estando envolvida em várias funções, como por exemplo a regulação do humor, a cognição, o sono e o apetite, entre outras”.
Através do estudo de imagens cerebrais in vivo, o grupo de cientistas voltou a acender o debate da “hipótese da depressão da serotonina”, que desde julho estava sem chama, pela publicação, na revista científica Molecular Psychiatry de uma revisão da literatura que afirmava não haver evidências para tal relação.
Participaram no estudo 17 pacientes com depressão clínica que não estavam medicados com antidepressivos e 20 voluntários saudáveis.
Através da utilização de uma nova tecnologia - que consegue analisar a atividade da serotonina cerebral - foi medido o seu nível em todos os voluntários. Depois de registados os resultados, foi-lhes dada uma dose de d-anfetamina, que estimula a libertação de serotonina. Registados, novamente, os resultados, os cientistas concluíram que, tal como esperado, nos indivíduos saudáveis ocorria aumento da atividade da serotonina.
Por outro lado, mostrou-se pela primeira vez que tal não sucedia nos doentes com depressão clínica, que apresentaram uma diminuição da sua atividade.
Segundo a psiquiatra Sofia Brissos “a menor atividade da serotonina no grupo com depressão foi observada em várias regiões do cérebro, mas sobretudo no córtex temporal, onde a diferença foi estatisticamente significativa”, ou seja, “a transmissão serotoninérgica poderá ser, ou estar, disfuncional nestes indivíduos.”
O debate na psiquiatria divide-se entre os profissionais que consideram esta descoberta importante, pelas suas novas evidências, e por quem defende que é uma investigação com poucas provas e que não tem resultados suficientes para contrapor o trabalho de revisão publicado há quatro meses.
Já a psiquiatra Sofia Brissos, crê que “a visão que a depressão se deve apenas a uma redução dos níveis de serotonina no cérebro é demasiado simplista”, e diz que é preciso “perceber se a metodologia neste estudo é a adequada para as conclusões a que os autores chegam”. É também preciso ter em conta que a amostra é pequena e “alguns doentes tinham Doença de Parkinson, o que pode influenciar os resultados” segundo a psiquiatra.
No entanto, e ainda que existam limitações, como sempre existem em todos os estudos, considera que “os resultados apontam que a serotonina estará certamente implicada na fisiopatologia da depressão”.
Este pode ser o início de mais descobertas na relação entre a serotonina e a depressão que deverá ser estudada e aprofundada a par com os avanços da tecnologia.
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