O fármaco Propranolol – vendido com o nome Inderal em Portugal – está esgotado a nível nacional desde o início de outubro e, nos últimos dias, vários doentes têm utilizado as redes sociais para tentar adquiri-lo de forma informal – fazendo muitas vezes apelos desesperados.
O medicamento é utilizado para controlar a hipertensão e prevenir enfartes do miocárdio, arritmias cardíacas, enxaquecas e angina de peito. Também pode ser receitado para contrariar ansiedade e tremores corporais. O Propranolol é considerado um medicamento “essencial” pela Organização Mundial de Saúde.
O Infarmed autorizou a venda de Inderal com rótulo espanhol nas farmácias portuguesas, e há muitos cidadãos a dirigir-se a farmácias espanholas à procura do fármaco.
“As pessoas chegam desesperadas à procura de Propranolol”, disse à SIC Notícias uma responsável por uma farmácia espanhola em Ayamonte, no sul do país, que fala numa “grande afluência”.
Na quarta-feira, a TVI contou o caso de uma criança sem acesso ao medicamento. Segundo a mãe, a criança corre risco de vida se não tomar o fármaco. Depois da emissão da reportagem, dezenas de espectadores contactaram o canal com o objetivo de oferecer o Inderal que tinham. A família já agradeceu o gesto.
Segundo o Infarmed, o stock normal do medicamento só deverá ser reposto no início do próximo ano. Inicialmente, a autoridade nacional que regula os medicamentos não explicou as razões que levaram à ruptura do stock em Portugal. Depois de ter sido questionada pelo Expresso, apontou que a rotura se deve "ao aumento da procura associado à incapacidade de aumento do fabrico". Não há notícia de que o medicamento esteja esgotado noutros países europeus.
Em Portugal, a Atnahs Pharma Netherlands é a empresa responsável pela comercialização do medicamento, que segundo o Infarmed está “a desenvolver esforços no sentido de antecipar a data de reposição”. A empresa ainda não se pronunciou publicamente sobre o problema.
O Propranolol foi patenteado em 1962 e aprovado para uso médico em 1964, vendido inicialmente pela empresa que hoje dá pelo nome de AstraZeneca, uma das farmacêuticas que criou uma vacina contra a covid-19. O cientista que mais contribuiu para o desenvolvimento da droga, o escocês James Black, recebeu o Prémio Nobel da Medicina em 1988 devido aos seus esforços.
Em janeiro de 2020, a AstraZeneca vendeu os direitos de comercialização do Inderal à empresa Atnahs Pharma por 350 milhões de dólares, juntamente com outros medicamentos que pertencem ao grupo dos beta bloqueadores. O acordo foi feito a nível mundial: exclui os mercados dos Estados Unidos, Índia e Japão, mas inclui o mercado Europeu.
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