Costa de Grândola continua sob assalto
Ambientalistas alertam para a iminência da autorização de um projeto imobiliário-turístico da Sonae Capital em zona especial de proteção da Rede Natura, na península de Troia
Ambientalistas alertam para a iminência da autorização de um projeto imobiliário-turístico da Sonae Capital em zona especial de proteção da Rede Natura, na península de Troia
Jornalista
Numa zona de sapal, onde se encontra a Caldeira de Troia, em plena zona de proteção especial da Rede Natura 2000, está em vias de ser autorizado um empreendimento que inclui 125 moradias e um hotel.
A consulta pública da chamada UNOP 4 (Unidade Operativa de Planeamento), que se estende por 264 hectares junto ao rio Sado, termina esta sexta-feira. Este fim de prazo leva os ambientalistas do Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente (GEOTA) e da associação Dunas Livres a alertar para os riscos que acarreta a autorização de tal empreendimento numa das áreas mais sensíveis do concelho de Grândola.
Os ambientalistas lembram, em comunicado, que o projeto integrado no Plano de Urbanização da Península de Tróia “está dentro da Zona Especial de Conservação (ZEC) do Estuário do Sado, o que deveria ser mais do que suficiente para inviabilizar qualquer projeto de urbanização”. A referida UNOP4 abrange uma zona húmida de importância ambiental significativa – a Caldeira de Tróia – “relevante para espécies ao abrigo da Diretiva Aves da Rede Natura 2000 e da convenção RAMSAR”.
Segundo os ambientalistas, um empreendimento desta envergadura “implica a perda irreversível de habitats e espécies da fauna e da flora e revela um enorme desprezo pelo património natural”. E recordam que também há património histórico em risco, uma vez que o empreendimento está projetado para um local onde existem ruínas romanas.
A Declaração de Impacto Ambiental do projeto da Sonae tem 13 anos, o que leva o GEOTA e as Dunas Livres a recusarem "reconhecer um documento com mais de uma década e que não contempla a atual situação ambiental e os impactos sociais e económicos locais”. Lembram ainda que a pressão construtiva e de centenas de milhares de turistas acarreta “pressão sobre os escassos recursos hídricos da região”, cuja disponibilidade tende a agravar-se com a crise climática.
Os megaempreendimentos de turismo de luxo projetados para a Península de Troia e a Costa de Grândola, “somam mais área do que as próprias localidades dos concelhos, num sítio que já está sobrelotado de oferta turística e que apresenta cada vez menos comunidades locais”, sublinha Rebeca Mateus, porta-voz da associação Dunas Livres.
Outro dos polémicos empreendimentos – o “Na Praia”, da herdeira da Zara – levou estas e outras associações ambientalistas a avançar com uma ação contra o município de Grândola, em julho, para levar o município a ceder a cópia integral do processo de licenciamento do empreendimento de Sandra Ortega.
O projeto “Na Praia” está localizado na fronteira da Reserva Botânica das dunas de Troia e da Reserva Natural do Estuário do Sado. As obras de infraestruturas (que arrasaram dunas) começaram em janeiro, mas só em março, depois de questionada por ambientalistas e jornalistas, a Câmara emitiu a licença para a obra avançar.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: ctomas@expresso.impresa.pt
Assine e junte-se ao novo fórum de comentários
Conheça a opinião de outros assinantes do Expresso e as respostas dos nossos jornalistas. Exclusivo para assinantes