Entre os mais de mil estudantes deslocados que responderam ao inquérito realizado pela Federação Académica do Porto (FAP), 52% estão “no mercado de arrendamento paralelo, sem contrato nem recibos de renda”. Por não terem qualquer comprovativo, os estudantes bolseiros e ainda os que pertencem a agregados que recebem o salário mínimo não podem pedir os apoios dados pelo Ministério do Ensino Superior a que teriam direito se conseguissem comprovar essa despesa.
Este é apenas um dos muitos dados “preocupantes” compilados pela FAP, depois de inquirir, na segunda quinzena de outubro, um total de 1325 estudantes que se encontram em instituições de ensino superior do Porto (76% do quais são deslocados). Desde a dificuldade em encontrar alojamento aos preços praticados no mercado e que levam a que cerca de um terço dos deslocados a morar em alojamento privado digam que essa despesa representa um “grande esforço financeiro”.
Entre os que responderam ao inquérito da FAP, há ainda 17% que não conseguiram ainda encontrar alojamento. Os números indicam também que cerca de um quarto dos estudantes deslocados concorreram a um lugar numa residência dos serviços de ação social da Universidade do Porto ou do Instituto Politécnico do Porto, mas que cerca de 150 não tiveram vaga, o que “corresponde a 60%" dos que tentaram.
318 euros por um quarto mais despesas
Estes dados preocupantes devem “motivar reflexão e justificam a atuação do Governo”, defende a presidente da FAP, Ana Gabriela Cabilhas.
Mas há mais dados: 43% dos alunos precisaram de pelo menos um mês para encontrar um alojamento. E que, em média, um estudante deslocado está a pagar 318 euros por um quarto. Em cerca de metade dos casos, o valor não inclui despesas com água, energia ou Internet, o que se traduz em “pelo menos mais 35 euros por mês”, contabiliza a federação.
“Perante este contexto, num ano que está a ser marcado por um aumento sem precedentes da taxa de inflação, se não forem urgentemente encontradas soluções, muitos estudantes poderão ser forçados a abandonar o Ensino Superior por falta de condições financeiras”, avisa Ana Gabriela Cabilhas.
Para a FAP é importante que o Governo atualize já no início de 2023 os valores das bolsas e complementos de alojamento, e que avance com a criação de incentivos fiscais ao arrendamento para estudantes e de uma “verba excecional destinada à comparticipação de alojamento estudantil junto de operadores privados que disponibilizem edificado para este efeito”. Pelo menos enquanto decorre a reabilitação e construção de mais camas em residências.
Quando questionados sobre a capacidade em suportar os custos com o alojamento, 18% dos que tiveram de procurar alojamento disseram já “ter ponderado ou estar a ponderar abandonar o ensino superior” e 16% preferiram não responder.
A percentagem sobe para os 24% já pensaram ou pensam abandonar se o universo for reduzido aos que disseram que alugar um quarto ou casa representa um grande esforço financeiro” ou que “ainda estão à procura”. A este conjunto de estudantes acrescem 25% que preferiram não responder, indica ainda a FAP.
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