Sociedade

Rui foi acusado pela PJ de matar dois homens, a juíza absolveu-o, o MP não recorreu. Rui não é um qualquer: no cadastro tem três homicídios

22 outubro 2022 17:54

Rui Gustavo

Rui Gustavo

Jornalista

Em 1995, Rui Mesquita Amorim já tinha assassinado os tios e um primo e no seu cadastro também se incluem um sequestro e tráfico de droga. As autoridades acreditam que terá protagonizado um duplo homicídio numa saída precária da cadeia onde se encontra detido por crimes anteriores. A juíza considerou que à investigação policial faltavam factos e o MP deixou cair o processo. Uma decisão rara no mundo judicial

22 outubro 2022 17:54

Rui Gustavo

Rui Gustavo

Jornalista

Os dois agentes da PSP acudiam a um vulgar acidente de viação numa estrada de acesso à A28, em Viana do Castelo, quando foram surpreendidos por um homem que saiu a correr de um carro parado pedindo-lhes ajuda. Era alto, corpulento e tinha a cara ensanguentada e cheia de nódoas negras, mas não tinha estado envolvido em qualquer colisão. O homem que pedia ajuda à polícia (talvez pela primeira vez na vida) era Rui Amorim e tinha sido violentamente espancado para confessar um crime que a Polícia Judiciária, o Ministério Público, a família e os cúmplices das duas alegadas vítimas mortais acreditam que ele cometeu — e que, segundo o Tribunal Central Criminal do Porto, pode nunca ter acontecido. A decisão da juíza Maria da Conceição Nogueira é de tal modo definitiva que o MP, antes plenamente convicto da culpa do acusado, nem sequer recorreu, uma opção incomum nestes casos. E Rui Amorim, antigo paraquedista e com um cadastro pesado, não é um arguido qualquer.

Naquele dia, os polícias de trânsito que ajudaram o ferido não o podiam saber, mas estavam a dar a mão a um recluso da cadeia de Coimbra condenado por vários crimes: o brutal homicídio à facada dos tios e do primo, rapto, espancamento e extorsão de um antigo patrão, tráfico de droga e ainda uma espetacular fuga da cadeia de Vale de Judeus depois de partir intencionalmente um dedo para forçar uma ida ao hospital. Esteve desaparecido durante quatro meses.