Sociedade

Para proteger os participantes de "uma inacreditável 'não questão'", marcha pela erradicação da pobreza em Lisboa foi cancelada

Impossible Walkers, caminhada integrada na edição de 2018 desta iniciativa
Impossible Walkers, caminhada integrada na edição de 2018 desta iniciativa
Helena Tomas

Ao Expresso, organização explica que a decisão resulta de um desejo de não contaminar comemoração do Dia Internacional pela Erradicação da Pobreza com o “ruído” dos últimos dias, assim como de proteger os participantes

A organização da iniciativa “Na Rua - Jornada Internacional pela Erradicação da Pobreza” cancelou a maioria do programa previsto para segunda-feira em Lisboa.

“Não queremos levar o ruído de ontem para 17 de outubro”, afirma Henrique Pinto em declarações ao Expresso. “Queremos proteger os participantes [da atenção mediática relacionada com a polémica]”, acrescenta o presidente e fundador da Impossible - Passionate Happenings.

Num comunicado enviado às redações, a associação organizadora do evento explica a decisão:

“Depois de um dia perdido à volta de uma inacreditável ‘não questão’ e ‘total non-sense’, e depois de ouvidos os principais parceiros, que ao longo destes últimos 20 anos têm generosamente tornado possível a comemoração da Jornada Internacional pela Erradicação da Pobreza (17 out.), em Lisboa, a Impossible - Passionate Happenings, organização promotora, decidiu manter do programa inicialmente divulgado apenas o momento final, ou seja, uma breve passagem pela Rua Augusta, por volta das 16h, e sem a presença oficial de nenhum dos seus co-organizadores e parceiros."

E acrescenta: “Ficam assim cancelados os outros dois momentos, as atividades ao ar livre, no Parque Eduardo VII e a Caminhada, que levaria os caminhantes-participantes do Parque Eduardo VII até à rua Augusta, descendo a Avenida da Liberdade.”

O comunicado prossegue afirmando que, ao contrário do que tinha sido inicialmente publicitado e como o Expresso já tinha avançado esta quarta-feira, Marcelo Rebelo de Sousa não irá estar presente na iniciativa. Segundo o organizador, foi-lhes explicado que dada a polémica o Presidente não quer estar associado ao evento.

“Esta decisão não se trata de um recuo ou de um dar a razão a quem a não tem, nem nunca teve”, continua a comunicação.

E ataca: “Trata-se tão simplesmente de uma posição que não deseja de todo dar mais espaço ou tempo de antena ao terrorismo da medíocre politica em Portugal, sempre pronto a dinamitar as pontes que as organizações vão conseguindo construir e erguer, com abnegado esforço. Por outro lado, não desejamos que o jornalismo se veja tentado a alimentar a murmuração, o ‘diz que disse’, esquecendo, na cobertura do evento ou em conversa com os participantes, o que de facto é importante e do interesse público.”

“Por último, impõe-se também declarar que chegará também o momento, um dia, em que a ignorância intelectual e ético-moral de alguns elementos da classe política em Portugal não condicionará, como tem constrangido, a agenda das organizações, que em Portugal, trabalham noite e dia pelo bem-estar de TODOS os residentes em Portugal", refere o comunicado.

Ao Expresso, a vereadora Laurinda Alves também comenta o caso. “Compreendo a decisão e a tomada de posição do cancelamento por parte da organização. Foram ditas coisas inqualificáveis para quem trabalha todos os dias no terreno e cujo único objetivo é ajudar nesta luta que a todos nos devia unir.”

“Infelizmente, nas últimas horas, assistimos a um aproveitamento político que só nos pode envergonhar. Em política não vale tudo. Pelo contrário, a política tem que ser - deve ser! - muito mais do que isto. A política é a arte suprema da construção do bem comum, centrada no bem do outro.”

[artigo atualizado às 13h50 para incluir declarações da CML e corrigido às 14h45 para clarificar autoria das citações]

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: calmeida@expresso.impresa.pt

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