Rui Gonçalves, presidente da Empresa de Gestão e Desenvolvimento Florestal (Florestal), deixou o cargo que ocupava desde 2021; o mandato terminaria em 2023. “O engenheiro Rui Gonçalves apresentou a sua demissão, que foi aceite. Cessa as suas funções a 31 de outubro”.
É com esta breve resposta e sem apresentar qualquer justificação, que o gabinete do ministro do Ambiente e da Ação Climática, Duarte Cordeiro, confirma ao Expresso a demissão do actual presidente da Empresa de Gestão e Desenvolvimento Florestal (FlorestGal), criada na sequência dos incêndios de 2017. Questionado pelo Expresso sobre a demissão, Rui Gonçalves confirma ter sido demitido. “Fui demitido. Como é um cargo de confiança política, apresentei a minha renúncia”. Quanto ao porquê, nada diz.
O Expresso apurou que por detrás da decisão do Governo estará um artigo de opinião de autoria de Rui Gonçalves, publicado no jornal Público, na semana em que surge a demissão. No artigo “Mudar o que tem de ser mudado”, o presidente da FlorestGal critica em cinco pontos o atual sistema de gestão de incêndios rurais, da atuação da Proteção Civil no incêndio da Serra da Estrela este verão, que responsabiliza pela perda de parte da floresta gerida pela empresa, à falta de execução de planos. E atira: “Temos um sistema de irresponsabilidade organizada”.
No seu entender, no texto publicado, cinco anos após os incêndios trágicos de Pedrógão, “a realidade veio mostrar que a preparação não passou do papel para o terreno. Ou seja, temos muitos relatórios, programas e planos escritos e aprovados, mas não os conseguimos executar quando é necessário”, escreve no artigo. Já quanto à atuação no combate, frisa: “O excesso de confiança do dispositivo montado pela Proteção Civil prejudicou a contenção dos reacendimentos ocorridos no Vale da Amoreira (a cerca de 2 km de distância) no dia 15, inviabilizando a preservação da totalidade da área. De um total de 555 ha, acabaram por arder cerca de 150. Numa primeira avaliação, as perdas incorridas estimam-se em 1.100.000 euros”.
O ex-secretário de Estado das Florestas também escreve que “a prevenção estrutural é inútil”, já que “apesar do esforço de investimento que estas ações acarretam, elas parecem ter sido completamente ignoradas pelo dispositivo de combate ao incêndio”. E lembra que “a mudança de foco da floresta para as edificações e áreas edificadas está a deixar os espaços naturais sem qualquer proteção, como os diversos incêndios deste ano, infelizmente, atestam”. E diz que “há demasiados agentes a “apagar” fogos”.
A empresa pública criada em 2018 e sediada em Figueiró dos Vinhos tem por missão a compra de 500 hectares de floresta, por ano, em áreas que pertençam à rede nacional de áreas protegidas, e gere atualmente cerca de 15.000 ha de terrenos agroflorestais distribuídos por perto de uma centena propriedades, de Norte a Sul do país.
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