Sociedade

Jesuítas detetaram oito casos de abusos de padres num período de 40 anos. Os suspeitos já morreram

Jesuítas detetaram oito casos de abusos de padres num período de 40 anos. Os suspeitos já morreram
Tinnakorn Jorruang / EyeEm

Companhia de Jesus pede perdão às vítimas e às suas famílias pelos abusos sofridos. Casos ocorreram entre 1950 e 1990 e as vítimas, de ambos os sexos, tinham idades entre os 9 e os 16 anos. “Não temos ainda informação de que tenham existido processos judiciais ou canónicos”. Levantamento interno, que pode não estar completo, foi enviado à Comissão Independente que estuda os abusos de crianças e jovens na Igreja

A Companhia de Jesus revela que apurou “com um grau de probabilidade elevada” a existência de oito casos de padres jesuítas suspeitos de terem abusado sexualmente de crianças e jovens, mas todos já morreram. As vítimas, de ambos os sexos, tinham idades entre os 9 e os 16 anos.

Os casos ocorreram entre 1950 e início de 1990. “A nossa primeira palavra não pode, pois, deixar de ser para com as vítimas, feridas na sua dignidade e marcadas física, emocional e espiritualmente por estes abusos. A estas pessoas, bem como às suas famílias, pedimos perdão pelos abusos sofridos e por não termos sido capazes, enquanto organização, de as proteger”, escreve em comunicado a Província Portuguesa da Companhia de Jesus (PPCJ).

Os Jesuítas reconhecem que possam existir “outras pessoas sofridas, cujas histórias não conhecemos, e a quem também nos dirigimos”, apelando a que estas venham à luz do dia. “Gostávamos de sublinhar que desejamos profundamente que esta nossa atitude não seja uma mera formalidade ou simplesmente “expectável” neste momento da história da Igreja, mas que nasça do fundo do coração e que possa exprimir a nossa mais sincera disponibilidade.”

Estes dados agora revelados foram apurados no âmbito do Serviço de Escuta - criado em novembro de 2021 “para acolher, escutar e ajudar possíveis vítimas de abuso sexual nas obras da Companhia de Jesus e onde chegaram duas denúncias - e também através de uma recolha e procura de informação interna, nomeadamente nos arquivos da PPCJ”.

A maioria destes abusos ocorreram em ambiente escolar, envolvendo alunos dos colégios da Companhia, tanto em contexto de grupo (sala de aula) como em contacto individual, sendo uns atos relatados como únicos, outros como pontuais e outros mais recorrentes.

Quanto às formas de abuso, “caracterizam-se na generalidade por toques em zonas íntimas, embora haja registos de formas mais invasivas. Há ainda outros relatos de situações que decorreram em contexto de acompanhamento individual”.

A consulta interna aos arquivos dos Jesuítas permitiu-lhes concluir que a informação sobre estes casos “é muito escassa e pouco objetiva”, sendo, por isso, “muito difícil, sem relatos concretos das vítimas, perceber com clareza em que circunstâncias se deram os abusos, se foram ou não denunciados, e quais as diligências que foram tomadas em relação aos abusadores e às vítimas”.

Conclui-se ainda que “a maior parte das situações não foram conhecidas à data da prática dos factos”.

Nos casos em que houve denúncias, os Jesuítas dizem ter tomado medidas como o afastamento do suspeito ou o seu isolamento em casa religiosa com proibição do exercício de atividade apostólica, bem como ouvir das vítimas. “Não temos ainda informação de que tenham existido processos judiciais ou canónicos.”

“Infelizmente, não podemos assegurar que tenham sempre sido tomadas todas as medidas que hoje consideramos adequadas, nomeadamente no que diz respeito ao cuidado e proteção das vítimas”, salientam os Jesuítas.

Esta investigação interna, alegam, insere-se “no esforço e empenho” da Igreja Católica em geral, da Conferência Episcopal Portuguesa em particular, e também da Companhia de Jesus, para erradicar o abuso sexual presente em variadíssimas áreas da sociedade, de modo a que este possa ser prevenido, denunciado e, na medida em que seja possível, reparado.

Na sequência deste levantamento interno, que pode não estar completo e prosseguirá sempre que se justificar, a PPCJ entregou a informação recolhida ao Grupo de Investigação Histórica da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra as Crianças na Igreja Católica, que está neste momento a fazer esse apuramento junto das dioceses e congregações religiosas.

“A PPCJ continua inteiramente disponível para colaborar de perto com a Comissão Independente no sentido de apurar toda a verdade e contribuir, assim, para o conhecimento do que se passou e para o acompanhamento e apoio das vítimas”, concluem os Jesuítas.

E alertam a todas e a todos que possam ter sido vítimas de qualquer espécie de abuso sexual no seio dos jesuítas, para entrarem em contacto com o Serviço de Escuta (escutar@jesuitas.pt ou 217 543 085) da Companhia de Jesus.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: HFranco@expresso.impresa.pt

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