A comissária europeia Elisa Ferreira, a ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa, e a secretária de Estado do Desenvolvimento Regional, Isabel Ferreira, lançam nesta sexta-feira a primeira pedra da Estação Biológica de Mértola (EBM), um projeto que envolve um investimento de sete milhões de euros e que deverá estar concluído no final de 2023.
“É um acto simbólico, porque as obras nos antigos celeiros da EPAC já começaram em julho, mas que demonstra a grande importância deste projeto interdisciplinar pioneiro a nível mundial, porque integra investigação, residências para cientistas, um Museu da Biodiversidade que junta arte, ciência e a memória histórica dos cereais, e ainda transferência de conhecimento para a economia local e soluções para os problemas das alterações climáticas, da desertificação e do interior”, afirma ao Expresso Nuno Ferrand, diretor do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO) da Universidade do Porto, que está a liderar o projeto com a Câmara Municipal de Mértola.
“Apesar de as obras só terem começado em julho, a EBM já está a desenvolver uma série de atividades concretas em instalações provisórias cedidas pela Câmara de Mértola”, explica Paulo Célio Alves, investigador do CIBIO, professor da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto e presidente da Associação Estação Biológica de Mértola. “Assim, temos projetos em fase de candidatura a financiamentos públicos e europeus, cinco estudantes de doutoramento, cursos de verão e ações de divulgação”.
Em abril, por exemplo, “esteve em Mértola um grupo de 40 alunos e quatro professores da Universidade de Montpellier (França), um dos parceiros do projeto da EBM, para um campo de trabalho de três semanas do mestrado em Ecologia, em que o território de Mértola é o seu objeto de estudo. E recentemente realizaram-se conferências e workshops sobre o lince ibérico e a raposa do Ártico”, conta o investigador.
A associação tem como objetivo garantir a gestão da atividade científica, tecnológica e educativa da futura estação, e foi fundada pela Universidade do Porto, Câmara Municipal de Mértola, Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva (EDIA) e Associação BIOPÓLIS (entidade gestora do CIBIO).
20 bolsas de doutoramento internacionais
Mas há mais. Em junho, a EBM e a Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) “assinaram um protocolo de colaboração para promover a financiar 20 bolsas de doutoramento nos próximos cinco anos no âmbito de um programa de investigação internacional para as regiões do Vale do Guadiana e Baixo Alentejo e também para as áreas envolventes de Espanha e do Norte de África, atualmente abrangidas pela extensão territorial das atividades da EBM”, salienta Paulo Célio Alves. As bolsas de doutoramento vão contribuir para consolidar, nessas regiões, “uma estratégia de transição agroecológica e de preservação da biodiversidade e dos recursos silvestres assente na salvaguarda, valorização e produção de conhecimento científico em torno do capital natural e cultural”, destacou na altura a FCT.
Ao mesmo tempo, representantes de universidades e centros de investigação de Espanha, Marrocos (Universidade de Tétouan), EUA (Universidade de Cornell, Nova Iorque), Áustria, Alemanha e outros países já visitaram Mértola, podendo tornar-se parceiros do projeto, tal como hoje acontece com a Universidade de Montpellier. “Em Espanha temos boas relações com as Juntas da Extremadura, Andaluzia e Castilla La Mancha”, recorda Paulo Célio Alves. Por outro lado, “a EBM já organizou muitas visitas institucionais a Mértola de empresários e investidores nacionais e estrangeiros, com o objetivo de atrair financiamentos para o projeto”.
O projeto da EBM foi inicialmente apresentado em fevereiro de 2020, mas acabou por ser adiado por causa da pandemia. O Museu da Biodiversidade terá um modelo semelhante ao Museu de História Natural e Ciência da Universidade do Porto, também dirigido por Nuno Ferrand, onde se cruzam ciência, instalações artísticas e a memória do edifício – a antiga Casa Andresen, onde viveu Sophia de Mello Breyner. Na EBM irão encontrar-se, assim, cientistas de todo o mundo das mais diversas áreas, estudantes de doutoramento, artistas, empresários, agricultores e visitantes.
Duas cátedras convidadas
O diretor do CIBIO, onde trabalham mais de 400 investigadores, sublinha que “o objetivo da Estação Biológica de Mértola é albergar formação avançada, nomeadamente doutoramentos”, e nesse sentido vão ser lançadas duas cátedras convidadas naquela vila, apoiadas por um programa da FCT, que envolvem um investimento global de 320 mil euros. A primeira, ligada à biodiversidade, será financiada pela EDIA (75%) e pela FCT (25%). A segunda, relacionada com a biologia das espécies cinegéticas, terá o apoio de empresas agrícolas da região e do ICNF - Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (75%), bem como da FCT (25%).
Estas cátedras “vão permitir a criação de uma equipa de investigação sedeada em Mértola”. Ao mesmo tempo haverá uma colaboração com o Campo Arqueológico de Mértola, fundado por Cláudio Torres, através da contratação de investigadores para trabalharem na área da chamada arqueobiologia, “de modo a fornecerem instrumentos moleculares aos arqueólogos, como retirar amostras de DNA dos fósseis”.
A Estação Biológica de Mértola será, portanto, um novo centro de valorização e transferência de tecnologia na gestão dos recursos naturais da região que dará prioridade a cinco áreas de investigação: biodiversidade, ecologia e conservação; fauna e flora; agroecologia; gestão sustentável da caça e recursos silvestres; e adaptação das espécies e atividades agrícolas à aridez.
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