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Surto de gripe A no festival Paredes de Coura? Casos relatados “não são uma preocupação de saúde pública”

Vodafone Paredes de Coura 2022
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Rita Carmo

Somam-se os relatos de festivaleiros doentes, alguns deles com gripe A e infeções pulmonares. No entanto, as autoridades de saúde regionais e locais não receberam “qualquer alerta” sobre um possível surto associado ao Paredes de Coura. “Não é um problema do festival”, garante o diretor João Carvalho. O especialista em Saúde Pública, Tiago Correia, lembra que estamos mais alerta a vírus e a doenças desde a pandemia: “Se há três anos existissem estes relatos, não havia notícia”

Quem foi ao Paredes de Coura sabe por que motivo o festival ficou especialmente viral nas redes sociais este ano. Entre dores de garganta, tosse, febre ou nariz entupido, são vários os relatos de pessoas que dizem ter ficado doentes e há até casos de gripe A e de infeções pulmonares, como escreve o jornal I esta quinta-feira. Mas tanto alarmismo é para já desnecessário: nem a organização do festival, nem a Câmara Municipal de Paredes de Coura, nem as autoridades de saúde — regional e local — têm conhecimento de qualquer surto associado ao evento realizado entre os dias 16 e 20 de agosto, na Praia Fluvial do Taboão.

Numa resposta enviada ao Expresso, a Administração Regional de Saúde (ARS) do Norte refere que “na sequência de rumores da ocorrência de um surto de infeção respiratória aguda, eventualmente associado ao Festival Paredes de Coura, informa-se que, até à data, as Autoridades de Saúde Regional e Local não rececionaram qualquer alerta, quer por via formal ou informal, nomeadamente, a correspondente notificação na plataforma informática de suporte ao SINAVE”.

Da mesma forma, a Câmara Municipal de Paredes de Coura, contactada pelo Expresso, afirma que “o delegado de saúde desconhece a situação”, não havendo para já “qualquer declaração a emitir” sobre um alegado surto com origem no festival. Ainda assim, a autarquia garante que está atenta e assim que tiver mais informações, comunicará.

Também o diretor do festival diz que não há razão para alarme. Segundo João Carvalho, a organização está a acompanhar os casos relatados e tem estado em contacto com as autoridades de saúde, que garantem ser “absolutamente normal” e até “esperado” as pessoas ficarem doentes depois de um festival de verão onde o clima não é propriamente amigável — muito calor durante o dia, muito frio à noite, além da chuva que abençoou Coura no primeiro dia, dedicado à música portuguesa.

“Não é um problema do festival”, assegura João Carvalho ao Expresso. “As pessoas estiveram dois anos de máscara por causa da pandemia e agora viveram juntas durante uma semana no acampamento. São casos normais”, continua o diretor, reiterando o que diz a ARS Norte: “Não há surto nenhum”. De facto, não há ainda como saber se se trata efetivamente de um surto de gripe A ou de casos isolados, e se poderá ter tido origem lá, em vez de ser apenas uma situação circunstancial e coincidente. A organização está “de consciência tranquila”, por se tratar de um “fenómeno alheio ao festival”, vinca.

O Expresso contactou ainda a Direção-Geral da Saúde que remeteu as perguntas para “a Autoridade de Saúde da Região”, uma vez que “estas questões são tratadas no âmbito local”. Questionada sobre a existência de surtos noutros festivais de verão, a DGS não respondeu.

De resto, a ARS Norte informa, na resposta enviada, que “as Autoridades de Saúde, no âmbito das suas competências, encontram-se, desde data prévia à realização do festival, a acompanhar este evento para, nomeadamente, promover a prevenção da ocorrência de surtos e/ou a sua deteção, para a devida investigação e intervenção em Saúde Pública”. E, por último, refere que “os festivaleiros têm proveniência de diferentes zonas do país, pelo que as Autoridades de Saúde Regional e Local mantêm-se alerta”.

“Não é uma preocupação de saúde pública”

Como nota Tiago Correia, especialista em Saúde Pública, estamos mais alerta a vírus e a doenças desde a pandemia. “Se há três anos existissem estes relatos, não havia notícia”, da mesma forma que “a grande aglomeração de pessoas não era uma questão antes”. Para o professor de Saúde Internacional, este é “o fator que alimenta a nossa atenção e preocupação, e não pode ser ignorado”.

Em segundo lugar, importa perceber se são infeções novas. Não sendo, não é à partida grave porque estamos a falar de “doenças que sempre existiram, o que acontece é que antes [da covid-19] não ligávamos tanto”. “Não há mal nenhum em haver estes relatos, não devem é contribuir para o alarme”, continua Tiago Correia. Resumidamente, os casos narrados “não são uma preocupação nem uma emergência de saúde pública”.

Por último, o facto de as pessoas terem usado máscara durante dois anos para se protegerem da covid-19 fez com que perdessem “alguma imunidade” e ficassem “mais suscetíveis, com as defesas mais em baixo”, sobretudo “estando num ambiente propício a infeções”, explica ainda o investigador do Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: mtribuna@expresso.impresa.pt

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