Um caso recente marcou as enfermeiras Débora Almeida e Khatidja Amirali. Uma senhora, grávida, já mãe de uma menina a quem tinha ordenado que se fizesse mutilação genital feminina, “deu a entender que a filha ainda por nascer também seria submetida a esta prática, como uma tradição para que fosse socialmente aceite”.
Mesmo sob a abordagem das enfermeiras da equipa de sinalização da Mutilação Genital Feminina (MGF) do Hospital Amadora Sintra – a de que a prática é crime, a prática não é aceite nem poderá ser vista assim, como simples prática – a mulher continuou a encará-la como obrigatória.
A maioria das mulheres compreende a significância das palavras das enfermeiras. Não se recordam quando foram submetidas ao ‘corte’, lembram-se apenas de serem crianças. Mas em adultas sabem que tal não deveria ter acontecido.
São sobretudo oriundas da Guiné-Bissau e da Guiné-Conacri, mas também há mulheres e meninas com origens no Senegal, na Gâmbia, na Nigéria e em Cabo-Verde. Assim, por ordem de número de casos “diagnosticados” de corte deliberado da genitália feminina, que inclui uma parte ou a totalidade dos lábios e do clítoris, órgão cuja única função é dar prazer.
Desde 2017 que o hospital Professor Doutor Fernando Fonseca, ou Amadora Sintra, é como que o ‘hospital sentinela’ para a deteção destes casos em Portugal, por ter uma grande maternidade e pela multiculturalidade dos utentes que recebe.
Em 2022, até julho, foram identificadas 52 meninas e mulheres excisadas, com idades entre os três os 48 anos.
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