Criação da especialidade de urgência: União Europeia de Médicos Especialistas envia carta a Marcelo, bastonário e Marta Temido
Lynsey Addario/Getty Images
O Bastonário da Ordem dos Médicos já leu a carta, bem como o secretário de Estado Adjunto e da Saúde, Lacerda Sales. Na opinião do representante em Portugal da União Europeia de Médicos Especialistas (UEMS), Nuno Catorze, “não podemos continuar a ter um Portugal a duas velocidades”
“Estou a escrever em nome da UEMS [União Europeia de Médicos Especialistas] para a Medicina de Emergência para apoiar fortemente o desenvolvimento da Medicina de Urgência como especialidade primária em Portugal”.
Várias entidades portuguesas com o futuro da especialidade de Urgência nas mãos receberam uma carta de Ruth Brown. A porta-voz desta especialidade para a União Europeia de Médicos Especialistas (UEMS), a mais antiga organização europeia de saúde, com mais de 60 anos, dirigiu-se ao Presidente da República, ao bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, e ao Ministério da Saúde.
Escreveu-lhes a chamar a atenção e a sublinhar a importância da criação da especialidade em Portugal, porque “não só beneficiaria os portugueses, na garantia de cuidados de alta qualidade aos doentes, como também garantiria que o pessoal médico nos serviços de urgência recebe formação adequada”, pode ler-se no documento que o Expresso teve acesso.
Não é inédito. Em 2021 aconteceu o mesmo para Espanha, outro dos nove países da UE que ainda não se renderam à criação da especialidade.
“Há uma má interpretação” de algumas especialidades
Como já havia acontecido com a criação da especialidade de medicina intensiva, têm-se verificado em Portugal algumas reticências por parte de determinadas especialidades, que Nuno Catorze garante virem de uma “má interpretação” do espaço que todas partilhariam nas urgências.
O médico internista e intensivista, representante de Portugal na UEMS, admite não ser “fácil de entender, para uma uma sociedade médica conservadora, quando em causa está a perceção de que esta especialidade poderá retirar lugares na urgência”.
Contudo, para o também diretor do Serviço de Medicina Intensiva e do Departamento de Urgência do Centro Hospitalar do Médio Tejo, as vantagens superam.
“Não podemos ter um Portugal a duas velocidades e ter médicos ultra especializados numas urgências e médicos sem especialidade noutras. A homogeneização dos serviços de urgência acaba por ser a formação dos médicos que lá trabalham”, defende Nuno Catorze.
A acrescentar a isto, existe vantagem na mobilidade dos médicos entre países. “Um especialista de urgência francês que viesse para Portugal não iria ter cá equivalência”, assegura.
Portugal é um dos nove países europeus (31) que ainda não se renderam à especialidade, apesar de as conversações estarem a avançar. O grupo de trabalho reunido na Ordem dos Médicos para avaliar a sua criação concluiu que seria uma mudança útil, tendo a recomendação sido, depois, aprovada pelo Conselho Nacional.
Miguel Guimarães, o bastonário que terminará o atual mandato em 2023, já reuniu com Marta Temido, ministra da Saúde, recetiva à posição da entidade reguladora – e que terá a palavra final.
Falta, em setembro, o manifesto da Assembleia de Representantes da Ordem dos Médicos, uma entidade consultiva com representantes de todas as especialidades médicas em Portugal.
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