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Fogo da Serra da Estrela continua longe de controlado e é o maior de sempre numa área protegida

Fogo da Serra da Estrela continua longe de controlado e é o maior de sempre numa área protegida
MIGUEL PEREIRA DA SILVA/Lusa

O maior incêndio do ano já devastou mais de 14 mil hectares na região da Serra da Estrela, estendendo-se entre a Covilhã e Celorico da Beira. O comando da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil no terreno teme “reativações durante a tarde”. Primeiro Ministro diz que é preciso avaliar o que falhou.

Ao sétimo dia, o incêndio que devasta a região da Serra da Estrela, continua longe do fim. As chamas já consumiram mais de 14 mil hectares de terrenos rurais, de acordo com dados provisórios divulgados pela Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC), e cerca de 15% do segundo maior Parque Natural português (que se estende por 89 mil hectares).

Já o sistema europeu EFFIS aponta para mais de 16 mil hectares ardidos nesta área, sem excluir os aglomerados urbanos e áreas agrícolas não afetados.

O incêndio terá tido origem criminosa na madrugada de sábado no lugar de Garrocho, na Covilhã, e estendeu-se para os concelhos de Manteigas, Gouveia, Guarda e Celorico da Beira.

Fontes contactadas pelo Expresso indicam que houve erros de coordenação e atuação dos comandos locais de bombeiros nas primeiras horas do fogo, no fim de semana passado.

PM quer avaliação do que correu mal

Esta sexta-feira, o primeiro-ministro defendeu publicamente que quando o incêndio estiver extinto poderá ser "estudado em pormenor o que foi acontecendo ao longo da fita do tempo e que podia ter corrido melhor para evitar que o incêndio ganhasse esta escala”.

Durante a última noite, as máquinas de rasto utilizadas pelos operacionais do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) e da força especial de bombeiros conseguiram consolidar alguns flancos do fogo. Contudo, “há a possibilidade de reativações durante a tarde desta sexta-feira”, admitiu o comandante Miguel Cruz, no briefing da ANEPC ao meio dia.

O coordenador das operações no terreno desde segunda-feira revelou que a zona mais problemática é a frente ativa entre Videmonte-Linhares e o Vale do Mondego, em Celorico. E que as variações de vento e as elevadas temperaturas não ajudam “numa situação complexa”, em que se conjuga uma área de montanha com altitude variável e uma situação meteorológica adversa.

Num perímetro de 100 quilómetros, estão a atuar máquinas de rasto, para conter o avanço das chamas, e no terreno estão 1600 operacionais, cerca de 400 viaturas e 16 meios aéreos.

Para já, o comandante Miguel Cruz ressalva que “o que correu bem é que não há vítimas mortais, nem danos significativos no património, tirando, tristemente, os registados no património natural”.

O maior incêndio numa área protegida

Este é o maior incêndio registado no Parque Natural da Serra da Estrela e em qualquer área protegida em Portugal. Mas em 2017, três grandes incêndios somaram 19.337 hectares (cerca de 21,7% da área total do parque) nesta área protegida, segundo o relatório desse ano do ICNF. Este valor equivale a cerca de metade dos 39.388 hectares ardidos em espaços florestais integrados em áreas protegidas nesse ano. Também em 2005, o Parque da Serra da Estrela foi atingido por três incêndios que queimaram no total uma área de 10 mil ha.

Segundo especialistas em incêndios contactados pelo Expresso, estes dados indicam que os grandes incêndios estão a dominar e a ocorrer em intervalos de tempo cada vez mais curtos, reflexo das alterações da paisagem e potenciados pelas alterações climáticas.

Se não forem aproveitados os níveis de humidade noturna que se preveem para esta noite, o incêndio pode prolongar-se por mais dias.

Desde o início do ano já arderam 77.965 hectares no território no continente português, segundo dados do ICNF.

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