11 fevereiro 2022 15:31
Isabel Bapalpeme, a jovem guineense de 29 anos que aguarda sozinha em Portugal por um transplante de pumão, escreveu uma carta de agradecimento a todos os que a ajudaram nos últimos dias e na sua vida inteira. E pediu ao Expresso para ser a voz que já quase não tem
11 fevereiro 2022 15:31
Os últimos dias têm sido uma montanha-russa de emoções para Isabel Bapalpeme, a jovem guineense de 29 anos que aguarda em Portugal por um transplante de pulmão. Com total dependência do aparelho de oxigénio, já quase não sai do apartamento onde vive, no Barreiro, e espera, sozinha, pelo surgimento de um órgão compatível. Mas será por pouco tempo. A mãe, que vive numa aldeia perto de Bissau, já tem visto para viajar para Lisboa – depois de um primeiro pedido recusado há quatro anos -, e o processo administrativo dos três irmãos menores, que irão também para Portugal, está em andamento, aguardando apenas a concretização de alguns requisitos legais que não podem ser dispensados.
Desde que a sua história foi publicada pelo Expresso, há uma semana, Isabel viu a vida a avançar. O ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, deu ordens diretas à representação diplomática em Bissau para acelerar o processo dos vistos, simplificando a burocracia para a vinda urgente da família, dispensando a necessidade de mais relatórios médicos que atestassem a “notória necessidade de acompanhamento familiar”. O dinheiro dos bilhetes também deixou de ser um problema: a enfermeira Carmen Garcia, autora da página “A Mãe Imperfeita”, sensibilizou-se com o caso, criou um crowdfunding e reuniu em duas horas os cerca de 3 mil euros necessários. O T1 do Barreiro, até agora quase vazio de móveis e conforto, encheu-se de doações de leitores e internautas, e já há sofá, estantes, livros, eletrodomésticos novos, um computador portátil, lençóis e até uns chinelos de quarto que estavam em falta.
Hoje Isabel quis agradecer. Pediu ao Expresso para ser a voz que ela já tem sumida. Na carta que aqui se reproduz, agradece à família que conseguiu enviá-la para Portugal para ser tratada, depois de oito anos com tuberculose; ao primo Sylvânio, que é a mão que a ampara em Portugal e a ajuda financeiramente; a Ana Cysneiros, a médica que a recebeu em 2014, nas urgências do Hospital Pulido Valente, só pele e osso, 27 quilos em 1,73m de altura, e que se tornou uma “irmã-amiga”. E a todos os que se disponibilizaram para ajudar. “Estou muito grata”.
A carta de Isabel
“Nos momentos mais difíceis da minha vida tive a sorte de encontrar na minha família o primo Sylvanio Lima, o tio Nicolau e o tio Gabriel que me ajudaram a chegar a Portugal. Não há dificuldade que nos faça parar nem problema que nos faça desistir quando temos ao nosso lado família que nos dá um apoio incondicional. Eu tenho a sorte de ter os melhores comigo e a eles devo muito.
Agradeço de coração todas as palavras de incentivo, bem como os gestos que me deram muita força em momentos que precisava. Vocês deixaram-me uma marca que o tempo não poderá apagar e eu espero um dia poder retribuir tudo o que fizeram por mim. Muito obrigada. Vocês são muito importantes, são especiais para mim.
Obrigada Sylvânio por você existir. Você tem um coração bom, que jamais encontrei noutro lugar, que Deus colocou no meu caminho. Desde o primeiro dia simplesmente pegou na minha mão e nunca a soltou até hoje, dividiu comigo todos os momentos, todas as alegrias e tristezas da minha vida. Abraça-me quando faz falta um abraço e dá-me carinho quando preciso. Ensinou-me a olhar o lado bom da vida com pensamentos positivos e a agradecer sempre, todos os dias.
Obrigada Dra. Ana Cysneiros. Sempre soube que você estaria ao meu lado em todos os momentos e seria a amiga perfeita que me ajudaria a levantar quando precisasse. Mas você foi além disso: impediu que eu caísse nos momentos difíceis. Não consigo encontrar palavras para agradecer tudo que tem feito por mim. Não é por nada que eu a considero minha irmã amiga. Você tem um coração sincero, de sentimentos valiosos e é uma pessoa sempre disposta a dar tudo que tem por quem ama. É uma grande bênção poder contar com sua presença na minha vida.
Agradeço às jornalistas Joana Pereira Bastos e Raquel Moleiro, à enfermeira Carmen Garcia e a todos as pessoas que contribuíram para este momento da minha vida. Não tenho palavras pra agradecer, estou muito grata. O empenho que disponibilizaram para me ajudar… Muito obrigada a todos, de coração.
O que mais quero agora é ter a minha mãe aqui com os meus irmãos e conseguir fazer o transplante para ter uma vida normal e saudável.