Sociedade

Marcelo apela ao voto : “Estas eleições são verdadeiramente diferentes”, “recuperar economia sem mudanças de fundo corre o risco de ser encharcar com milhões as areias de um deserto”

29 janeiro 2022 13:03

Rui Ochoa/Presidência da República

Presidente da República pede aos portugueses que avancem para o voto “sem temores nem inibições” e lembra que há um ano, nas presidenciais, nem havia vacina. O momento é de “difíceis desafios europeus e tensão mundial”, alerta. Numa referência indireta ao PRR, Marcelo avisa que “recuperar sem mudanças de fundo” será um desperdício. E sugere revisão da lei eleitoral

29 janeiro 2022 13:03

“Podemos votar em segurança”, afirmou o Presidente da República na mensagem de apelo ao voto que este sábado dirigiu ao país. Marcelo Rebelo de Sousa enfatizou a especial importância destas legislativas antecipadas e avançou razões para estas serem “eleições verdadeiramente diferentes”. 

 À cabeça da lista, o Presidente lembra serem “as primeiras eleições parlamentares realizadas em pandemia e após rejeição, também pela primeira vez, de um Orçamento de Estado em democracia” e regista “o domínio de três temas” em jogo: “a própria pandemia e a saúde; a urgente melhoria das condições de vida; e a próxima fórmula governativa por cada um preconizada”.   

Logo a seguir, numa referência indireta aos dinheiros do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) que chegarão de Bruxelas, o Presidente avisa que estas eleições também são diferentes, “porque nelas confirmámos que o choque da pandemia tem sido tão abrupto e prolongado que recuperar economia e mitigar pobreza e desigualdade sem mudanças de fundo, corre o risco de ser encharcar com milhões as areias de um deserto”.  

Num veemente apelo para que no domingo os portugueses votem “sem temores nem inibições, Marcelo lembra que assim aconteceu “em Setembro, nas eleições locais, e, há um ano, nas eleições presidenciais, com mais de trezentos mortos por dia, mais de oitocentos cuidados intensivos e mais de seis mil internados. E sem vacinas”. O Presidente dá o seu exemplo: “Amanhã lá estarei, como sempre, com o meu, um em milhões, a dizer o que penso sobre os próximos anos para Portugal. Anos de saída de uma penosa pandemia, de urgente reconstrução da economia, da sociedade, do ambiente, da vida das pessoas, de difíceis desafios europeus, e de tensão mundial como já não existia há quase vinte anos”. 

Rever a lei eleitoral

Lamentando “a falta de uma lei de emergência sanitária, de que falei há um ano” e a “necessidade de revisão da lei eleitoral, tão rígida que exclui votação fora de domingos e feriados e não permite horários flexíveis, assim fechando portas a situações excecionais”, o Presidente congratulou-se apesar de tudo com “o relevo do voto antecipado, a sugerir a oportuna reponderação do dia de reflexão, pensado para outra época e outras preocupações”. 

Outra diferença assinalada por Marcelo foi “a audiência sem precedente nos numerosos e mobilizadores debates e entrevistas, em clássicos e novos meios digitais”, que disse “aconselhar cuidado acrescido naqueles que pensam regressar, no futuro, a poucos e seletivos debates audiovisuais”. Também a campanha eleitoral mereceu especial referência na mensagem: “Confirmámos uma serenidade no mês seguinte à convocação das eleições, e uma pré-campanha e campanha, nalguns pontos, muito diversas das tradicionais”, em parte devido à pandemia “mas não menos, porque com a participação de mais jovens, e, ainda, porque há certos meios e estilos que passaram e dificilmente voltarão a ser como eram”.   

“Eu sei que pandemia, cansaço, conformismo, e outras razões do foro íntimo, são, para muitos, argumentos para escolher não escolher”, afirmou Marcelo. Para terminar como começou: “Nestas eleições tão diferentes, num tempo tão diferente e tão exigente, votar é também uma maneira de dizermos que estamos vivos e bem vivos, e que nada, nem ninguém, cala a nossa voz”