13 janeiro 2022 11:07
A frase de Fernando Araújo, presidente do Centro Hospitalar Universitário de São João, é um dos destaques da conferência que se realizou quarta-feira para debater como a tecnologia pode ajudar a tornar a saúde mais humana e personalizada
13 janeiro 2022 11:07
A tecnologia tem um papel cada vez mais relevante na saúde, mas ainda há entraves a uma adopção mais generalizada das inovações tanto da parte dos prestadores de cuidados como das pessoas. A pandemia ajudou a ultrapassar alguns obstáculos e a quebrar alguns preconceitos e até a tomar alguns riscos, mas ainda não chega. Sofia Marta, vice-presidente responsável pela área de Saúde da Accenture Portugal; Fernando Araújo, presidente do Centro Hospitalar Universitário de São João; Virgílio Bento, fundador e CEO da Sword Health; Rui Ivo, presidente do Infarmed; e Sónia Santos, diretora responsável pela área de Saúde da Accenture Portugal, estiveram no final da tarde a debater estes temas, um encontro que contou ainda com uma declaração gravada de Kaveh Safavi, diretor geral sénior da área de Global Health da Accenture.
Estas foram as principais conclusões do CEO Health Forum:
Uma saúde mais humana
- Falar da humanização da saúde é falar de cuidados de saúde mais personalizados para cidadãos que estão mas envolvidos no processo, que sabem mais sobre o seu corpo e sobre as suas patologias, que se cuidam mais e têm atitudes mais preventivas e que exigem o mesmo nível de envolvimento aos seus cuidadores, repara Sónia Santos e Fernando Araújo. Hoje, “o serviço personalizado é um dado adquirido na banca e no comércio, por exemplo, e portanto é natural que na saúde também o seja”, diz Sofia Marta.
- Mas para que a saúde possa ser mais personalizada é preciso recorrer à tecnologia, porque é através dela que se quebram barreiras de acesso, de comunicação, de tempo, de distância. Contudo, não se trata de substituir os prestadores de saúde por tecnologia, mas sim “combinar os cuidados prestados por humanos com a tecnologia”, repara Kaveh Safavi. É que, acrescenta, sem a tecnologia vai ser difícil arranjar médicos e enfermeiros para todos os que precisam. De facto, diz Virgílio Bento, quando há falta de cuidadores para um determinado problema a solução é sempre reforçar os recursos humanos, “mas sem aumentar os custos”. Ora, sem aumentar os custos não é possível e, portanto, o resultado é que “não se faz nada e o acesso continua a ser limitativo”.
SNS tem de mudar de estratégia e de cultura
- A plataforma de fisioterapia digital à distância para tratar patologias músculo-esqueléticas desenvolvida pela Sword Health é um claro exemplo de como ainda existem entraves na adoção da tecnologia na saúde. De acordo com o fundador e CEO, Virgílio Bento, a empresa está a ter um crescimento muito significativo nos EUA onde trabalha com as maiores seguradoras e sistemas de saúde, mas em Portugal nunca tiveram “possibilidade de trabalhar com o Serviço Nacional de Saúde (SNS) porque existe uma visão diferente sobre o impacto que a tecnologia pode ter na saúde”, diz.
- De facto, aponta Fernando Araújo, “há uma questão de cultura” no SNS e em quem governa que ainda é um entrave à adopção de novas tecnologias. “Enquanto continuarmos a pensar da mesma forma, por vezes muito formatada, muito rígida, não conseguiremos incorporar a tecnologia em tempo útil e de forma profunda (…) Do lado nacional, há uma rigidez e uma lentidão na adoção destas soluções”. Contudo, diz ainda, é preciso ter em atenção que “nem toda a tecnologia nova é boa ou traz mais-valias. Temos visto propostas de nova tecnologia que nem sempre beneficiam os processos”. Uma opinião que já havia sido partilhada por Rui Ivo. “Estas tecnologias têm de responder a necessidades concretas e ter dados de que cumprem o seu objetivo”.
- O entrave não é apenas da parte dos prestadores de saúde, mas também das pessoas. Um estudo recente da Accenture diz que 58% das pessoas inquiridos estão mais disponíveis para recorrer às tecnologias nos cuidados de saúde. Mas apesar dessa percentagem ser positiva há ainda o problema de muita gente não ter acesso à tecnologia, porque não tem computador, smartphone ou acesso à internet, remata Sónia Santos.
Texto: Ana Baptista