O Expresso descobriu um abrigo de animais perto do canil que ardeu no incêndio de Castro Marim — e a Câmara e a GNR não sabiam que existia
Numa zona isolada, de montanha e de terra batida em Santa Maria, no município de Tavira, há um espaço com 44 cães de caça que não está sinalizado e que não é do conhecimento das autoridades. O Expresso, que se deslocou ao local, viu-o. Confrontadas com a existência de tal espaço, a Câmara e a GNR de Tavira dizem que desconhecem a existência deste abrigo mas garantem que vão investigar. Esta semana ardeu um canil ilegal durante um incêndio que começou em Castro Marim, e no qual morreram 14 animais, que fica próximo deste espaço que o Expresso descobriu
O abrigo situa-se em Santa Maria, numa zona isolada e de montanha
João Mira Godinho
É preciso percorrer quase 10 quilómetros numa estrada de terra batida para lá chegar. Ainda longe já se ouvem os cães a latir. Este espaço que abriga animais é feito com chapas de zinco onduladas mas nunca foi sinalizado à Câmara. A garantia é dada pela autarca de Tavira, que não “tem conhecimento nenhum nem nunca ouviu falar” deste espaço. Ainda assim, Ana Paula Martins adianta que a situação vai ser analisada através da veterinária municipal.
O Posto Territorial da GNR de Tavira também assegura que “de momento não há conhecimento de um canil naquele local”, em Santa Maria. O comandante do posto, Elidio Jorge Soares, diz que "são verificadas todas as situações denunciadas e articulados procedimentos com as entidades competentes”. Neste caso, e assim que for possível, vão ser “efetuadas diligências para averiguar a situação”.
Entretanto, depois de contactada pelo Expresso, através do Núcleo de Proteção Ambiental (NPA) de Tavira, a GNR informou que já foi feita uma ação de fiscalização em conjunto com a veterinária municipal e que "não se detetaram quaisquer crimes de maus-tratos a animais". No total, foram identificados 44 cães de caça. "Seis dos quais pertencem a um proprietário e os restantes 38 pertencem a outro, estando estes últimos registados como matilha de caça maior no Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas", esclarece a GNR.
Este abrigo não fica muito longe do que ardeu no incêndio de Castro Marim, na localidade de Santa Rita, em Vila Real de Santo António. Pelo menos 14 animais morreram carbonizados no espaço que, afinal, já tinha sido denunciado em 2018 pelas associações de proteção animal. Elidio Jorge Soares, sargento-ajudante de infantaria, garante também que “neste momento estão a ser efetuados esforços no sentido de localizar quaisquer situações idênticas” em Tavira.
O problema dos abrigos ilegais não é de agora. Há pouco mais de um ano, um incêndio que deflagrou em Santo Tirso atingiu dois abrigos ilegais e morreram carbonizados 73 animais. Muitas vezes, estes espaços sem condições de bem-estar animal só são descobertos quando há algum incêndio.
Para mudar isso, é importante fazer um levantamento de todos os abrigos do país, sugere o PAN, “sejam eles legais ou ilegais, pertençam eles a entidades públicas ou privadas, para que sejam registados numa base de dados e para que se proceda à regularização desses espaços”, propõe a porta-voz do partido, Inês de Sousa Real, em declarações ao Expresso.
“As próprias câmaras municipais têm de ter centros de recolha oficial e médicos veterinários municipais, o que ainda não existe em todo o país”, lamenta Inês de Sousa Real. A líder do PAN lembra que, em alguns casos, as autoridades têm conhecimento destas situações mas depois os animais acabam por permanecer no mesmo sítio, sem serem retirados, porque não existem centros de recolha ou porque não há articulação com as associações da zona.
Além disso, tem de haver mais fiscalização: “Tivemos até aqui uma inércia muito significativa por parte da Direção-Geral de Alimentação e Veterinária”, aponta Inês de Sousa Real. Na perspetiva do PAN, têm ainda de ser promovidas campanhas de esterilização dos animais para conseguir controlar a população errante.
Esta quinta-feira, a Ordem dos Veterinários também insistiu no levantamento nacional de todos os abrigos para evitar a morte de mais animais e para que "não haja surpresas como agora", referindo-se ao caso de Santa Rita.
Notícia atualizada com a ação de fiscalização feita pela GNR
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