Mudanças nas rotinas, no trabalho, na alimentação, no exercício físico e nos padrões de sono, mais stress e ansiedade em relação ao futuro: foi assim que a pandemia trocou as voltas aos ciclos menstruais. A covid-19 obrigou a um ajuste no estilo de vida na maioria das pessoas e “as mulheres têm um poderoso indicador de saúde: o ciclo menstrual”, que reflete as “alterações na saúde hormonal e no geral”, explica ao Expresso a educadora de fertilidade consciente Inês Martins Almeida,
Os ciclos menstruais são, em parte, regulados pelo hipotálamo (situado no cérebro) que é responsável por funções involuntárias do corpo, como o controlo da temperatura, o apetite ou o sono. Ora, “qualquer distúrbio que possa influenciar este processo poderá ter um impacto na produção das hormonas que controlam o ciclo menstrual”, continua Inês Martins Almeida, instrutora de perceção de fertilidade.
Além das alterações nas rotinas, o stress e a ansiedade provocados pela pandemia também têm culpa. “O corpo mantém a sua cadência regular quando a vida se mantém estável. Acrescentando níveis de stress ou de ansiedade, claramente o corpo vai reagir”, sustenta Patrícia Lemos, educadora de saúde menstrual. Estes aspetos podem também intensificar a tensão pré-menstrual (TPM), associada a sintomas que afetam as mulheres geralmente antes da menstruação.
Mulheres que não utilizam contraceção hormonal, como a pílula ou o anel vaginal, notaram ciclos mais irregulares com a pandemia. Um estudo (ainda não revisto por pares) realizado por investigadores de universidades da Irlanda e de Inglaterra mostrou que mais de metade (53%) das 749 mulheres inquiridas sobre as caraterísticas do seu ciclo menstrual relataram alterações tais como mudanças de humor e ciclos mais longos do que o habitual.
De acordo com os resultados da investigação — que se chama “Como as mudanças de estilo de vida dentro da pandemia de covid-19 afetaram o padrão e os sintomas do ciclo menstrual” — as participantes que relataram um aumento do stress e de preocupação na saúde familiar e pessoal notaram alterações nos sintomas menstruais. Da mesma forma, o stress de segurança no trabalho foi associado a ciclos mais longos do que o habitual.
“O estudo aponta para uma associação entre alterações do ciclo menstrual e fatores relacionados com a pandemia que há muito sabemos que podem afetar os ciclos menstruais, em que avultam o stress e as alterações significativas dos hábitos alimentares, do exercício físico e do sono”, explica João Bernardes, professor de ginecologia e obstetrícia na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP). Todos estes fatores “interferem com a regulação neuro-endócrina do ciclo menstrual”, confirma.
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