21 maio 2021 14:26

A equipa do Amadora-Sintra aprendeu a lidar com as dificuldades em abordar as mulheres que foram mutiladas
nuno botelho
Esmeralda Barbosa, médica ginecologista, e as enfermeiras Débora Almeida (à direita) e Khatidja Amirali (à esquerda) fazem parte da equipa do hospital Amadora Sintra que tem detetado cerca de metade dos casos de mutilação genital feminina em Portugal.
21 maio 2021 14:26
Uma criança de três anos nascida em Portugal foi levada pela mãe, em outubro do ano passado, ao Hospital Amadora-Sintra para ser examinada. Tinha passado as férias de verão com os avós paternos no país de origem da família e foi apanhada pelo ritual do fanado. A mãe, preocupada, queria confirmar se a filha tinha sofrido uma mutilação genital. Tinha. O caso foi referenciado à Comissão de Proteção de Crianças e Jovens e é um exemplo de situações que continuam a ser identificadas em Portugal. A última naquele hospital aconteceu há menos de um mês.
Desde 2015, já foram identificadas 177 mulheres vítimas de mutilação genital apenas no Amadora-Sintra, e o registo tem aumentado sobretudo devido à sensibilização dos profissionais e à especialização da equipa. Em 2018 foram referenciados 18 casos, 55 em 2019, 57 em 2020 — e este ano, até ao final de abril, 19. Essas mesmas 177 mulheres geraram 95 crianças do sexo feminino, potenciais alvos de novas mutilações. Segundo o hospital, a maioria vem da Guiné-Bissau (130) e da Guiné-Conacri, mas há registos da Nigéria, Senegal e Gâmbia; as idades variam entre os três e os 48 anos e todas foram excisadas na infância. Rosa Monteiro, secretária de Estado para a Cidadania e Igualdade, alarga as contas ao país: até março, há 40 casos registados em Portugal, diz ao Expresso.