Sociedade

Paixão pela ciência “segura” precariedade laboral de cientistas

Paixão pela ciência “segura” precariedade laboral de cientistas
Yegor Aleyev/TASS/Getty Images

Os cientistas em Portugal estão satisfeitos com o que fazem, mas insatisfeitos com o vínculo laboral. É a “paixão pela ciência” que os leva a manterem a precariedade, concluiu inquérito da socióloga e sindicalista Ana Ferreira

A "paixão pela ciência" leva a que os cientistas em Portugal mantenham a precariedade laboral, concluiu à Lusa a socióloga e sindicalista Ana Ferreira, autora de um inquérito divulgado esta terça-feira sobre o trabalho científico no país.

O inquérito "Trabalho científico em Portugal", divulgado pela Federação Nacional dos Professores (Fenprof), na qual Ana Ferreira é membro do Departamento do Ensino Superior, foi realizado durante a pré-pandemia da covid-19, entre 1 dezembro de 2019 e 28 de fevereiro de 2020.

O estudo de opinião, para o qual foram validadas 2.726 respostas, pretendeu caracterizar a população científica, as suas atividades, as relações com o trabalho e as "vivências subjetivas da precariedade".

Em síntese, segundo Ana Ferreira, que coordena o grupo de investigação Cidadania, Trabalho e Tecnologia no Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais da Universidade Nova de Lisboa, os cientistas em Portugal estão satisfeitos com o que fazem, mas insatisfeitos com o vínculo laboral.

"A paixão pela ciência justifica manterem a precariedade", afirmou à Lusa.

O inquérito, que circulou via internet, abrange investigadores com bolsa e contrato de trabalho a prazo, trabalhadores sem rendimento, gestores de ciência e tecnologia com contratos ou bolsas e docentes, sendo que as questões eram de resposta facultativa.

Do total de 2.726 respostas validadas, a maioria reporta-se a investigadores com contrato a termo (1.053) e com bolsa (1.011, incluindo 275 doutorados) e trabalhadores sem remuneração (171). Apenas 153 trabalhadores científicos tinham vínculo laboral permanente, mas não foram considerados para o trabalho.

A maioria dos inquiridos é do sexo feminino, tem uma idade média de 38 anos e quase metade tem filhos.

Tanto investigadores bolseiros como contratados e trabalhadores sem remuneração revelaram "incerteza no futuro, falta de estabilidade nos projetos pessoais, procura constante de emprego e desmotivação", mas também insatisfação com a "segurança no emprego" e as "oportunidade para progredir", apesar da satisfação quanto ao "desafio intelectual" e ao "grau de autonomia" da sua atividade.

Grande parte dos trabalhadores sem remuneração está ligada à investigação e está no desemprego ou aguarda a abertura de concursos.

De acordo com o inquérito, as bolsas perpetuam-se por mais de cinco anos ou mais de 10 anos e os contratos de trabalho duram, maioritariamente, até cinco anos.

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