Sociedade

“Os antibióticos têm de ser poupados, não podem ser esbanjados”

Participaram no último debate do ciclo "Imunes" (da esq. para a dir.) a intensivista Margarida Câmara (Hosp. Dr. Nélio Mendonça), José Artur Paiva (coordenador nacional do PPCIRA), Sara Cerdas (eurodeputada do PS) e José Neves (infeciologista do Hosp. Vila Franca de Xira).
Participaram no último debate do ciclo "Imunes" (da esq. para a dir.) a intensivista Margarida Câmara (Hosp. Dr. Nélio Mendonça), José Artur Paiva (coordenador nacional do PPCIRA), Sara Cerdas (eurodeputada do PS) e José Neves (infeciologista do Hosp. Vila Franca de Xira).

Projetos Expresso. José Neves, do Hospital de Vila Franca de Xira, defendeu a racionalização da utilização destes medicamentos para evitar que percam a eficácia no tratamento de infeções bacterianas. Esta foi uma das recomendações deixadas pelos especialistas no último debate do ciclo “Imunes”, resultado de uma parceria entre o Expresso e a MSD, com transmissão em direto no Facebook do semanário

Francisco de Almeida Fernandes

Combater a resistência aos antimicrobianos é uma missão para todos os agentes da sociedade, desde os médicos prescritores aos doentes, passando pelas indústrias farmacêutica e da agropecuária, mas envolvendo, também, os decisores políticos. Com o consumo de antibióticos a aumentar em todo o mundo, impulsionado pela pandemia de covid-19, é essencial reforçar a formação dos profissionais de saúde, a literacia dos cidadãos e regulamentar a utilização destes medicamentos na criação animal, defendem os especialistas. “Se continuarmos a usar de forma incorreta os antibióticos vamos chegar a uma dificuldade em debelar estas infeções e a mortalidade vai ser enorme em infeções causadas por microrganismos multirresistentes”, avisa Margarida Câmara, intensivista no Hospital Dr. Nélio Mendonça, no Funchal.

A importância de uma utilização racional dos antibióticos foi o mote para a última discussão do ciclo “Imunes”, resultado de uma parceria entre o Expresso e a MSD, depois de nos últimos meses ter promovido debates em torno da prevenção de doenças como o cancro, a diabetes e o colesterol, assim como a importância das vacinas na saúde, em especial em plena crise pandémica. À mesa virtual desta conversa, transmitida no Facebook do Expresso e moderada pelo/a jornalista da SIC Notícias Marta Atalaya, estiveram José Artur Paiva (PPCIRA), Margarida Câmara (Hospital Dr. Nélio Mendonça), José Neves (HVFX) e Sara Cerdas (eurodeputada do PS).

Conheça as principais conclusões:

Diagnóstico do problema

  • Embora Portugal esteja abaixo da média europeia no consumo de antibióticos, os especialistas alertam para a elevada taxa de resistência aos antimicrobianos que deve ser vista como um problema de saúde pública;
  • José Neves considera que a situação é um reflexo da “medicina defensiva” praticada por muitos profissionais, que preferem administrar antibióticos numa primeira intervenção clínica, de forma a evitar o regresso do doente;
  • “Já chegámos, infelizmente, a uma altura em que temos bactérias resistentes a todos os antibióticos conhecidos pelo Homem”, alerta a eurodeputada do PS Sara Cerdas, que realçou o papel da União Europeia no acompanhamento desta problemática e das recomendações que tem vindo a fazer aos Estados-membros;
  • Um dos grandes desafios deste combate prende-se com a utilização excessiva de antibióticos na agropecuária, sector em que “não eram usados para tratar infeções em veterinária, mas sim para que os animais engordassem e crescessem mais para ter mais lucro”, afiança José Neves.

Utilização crescente em período de covid-19

  • Os especialistas avisam, à semelhança do que fez a Organização Mundial da Saúde em julho, para a utilização inadequada destes medicamentos no tratamento de uma infeção que, no caso do SARS-Cov-2, é viral e não de origem bacteriana. A covid-19, defende José Neves, “vai fazer com que se aumente o consumo de antibióticos e o aumento das resistências”;
  • “A maioria dos doentes que tem infeção por covid não tem infeção bacteriana e a maioria desses doentes, mesmo na comunidade, fazem antibiótico”, explica o infeciologista do Hospital de Vila Franca de Xira;

Medidas para reduzir a resistência

  • Os participantes no último debate do ciclo “Imunes” são unânimes em relação à importância de “fazer mais formação, mais sensibilização”, como lembra Margarida Câmara;
  • Outra das medidas de combate deve ser a regulamentação da utilização de antibióticos em animais, defendem. “Desde 2006 que foi abolida a utilização de antibióticos para o crescimento [de animais] na EU, mas ainda são utilizados na agropecuária”, aponta a eurodeputada;
  • Sara Cerdas relembra ainda que é fundamental apoiar “a investigação e a inovação em termos de descoberta de novos medicamentos antimicrobianos”, algo que a União Europeia tem vindo a fazer nos últimos anos e cuja estratégia deverá ser mantida no futuro;
  • Olhar para a saúde de forma integrada, dizem, será outra das alterações a implementar e isso passa também, lembra José Artur Paiva, por “usar os antibióticos com sensatez e, em segundo lugar, diminuir as infeções por bactérias, porque se as prevenirmos teremos de usar menos antibióticos”.
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