É possível viver nas nuvens? Em Vénus talvez seja: astrónomos descobrem indícios

Grupo de astrónomos deteta presença de uma moléculas na atmosfera de Vénus, possivelmente justificada pela existência de vida anaeróbica nas nuvens do planeta
Grupo de astrónomos deteta presença de uma moléculas na atmosfera de Vénus, possivelmente justificada pela existência de vida anaeróbica nas nuvens do planeta
Onde os dias são mais longos do que os anos, onde as temperaturas infernais são provocadas por camadas de nuvens extremamente densas, onde a pressão atmosférica é 92 vezes superior ao do nosso planeta: é lá, no gémeo da Terra, capaz de desafiar a resiliência de qualquer forma de vida, que uma equipa de astrónomos europeus e norte-americanos detetou a presença de uma molécula potencialmente gerada por microorganismos. É possível viver nas nuvens? Em Vénus talvez seja.
O grupo de investigadores assevera ter encontrado possíveis indícios de vida no vizinho mais próximo da Terra, pouco explorado pela astronomia, onde há muito se tinha perdido qualquer esperança de encontrar sinais de que não estamos sozinhos no Sistema Solar.
Os resultados, ainda preliminares, carecem de confirmação por parte da comunidade científica, mas revelam a existência de fosfina nas nuvens de Vénus, capaz de ser explicada pela existência de atividade microbiológica.
O elemento gasoso em causa, escreve o "El País", trata-se de fosfina, um derivado tóxico e fétido do fósforo, utilizado como inseticida e um resíduo na produção de metanfetaminas.
A produção de fosfina, também presente na Terra, tem como fonte principal a existência de termófilos, adaptados a um estranho modo de vida onde não há oxigénio, como as profundezas de alguns lagos ou o intestino de alguns animais, incluindo os humanos.
O estudo, publicado na revista científica "Nature Astronomy", frisa que a quantidade de fosfina encontrada em Vénus é 10 mil vezes superior àquela que poderia ser produzida através de métodos não biológicos.
Se por um lado a superfície venusiana evapora qualquer possibilidade de encontrar vida — um ser humano sobreviveria apenas alguns segundos caso pisasse o solo, esquentado a mais de 400 graus celsius, suficiente para derreter até chumbo; por outro lado, o céu de Vénus pode muito bem ser um improvável paraíso para a vida.
A uma altitude de 50 quilómetros, as condições climáticas do planeta são bem mais convidativas, onde a temperatura ronda os 20 graus e a pressão é similar à terrestre.
Já em 1967, Carl Sagan tinha publicado um estudo na “Nature”, no qual auspiciava que nas nuvens de Vénus podiam morar seres do tamanho de bolas de pingue-pongue: uma espécie de medusas flutuantes, preparadas para subsistir entre os gases tóxicos do planeta.
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