Sociedade

Supremo não perdoa Neto Moura, o juiz do acórdão “da mulher adúltera”

Supremo não perdoa Neto Moura, o juiz do acórdão “da mulher adúltera”

Neto Moura recorreu da pena da admoestação registada que lhe foi aplicada por ter usado "expressões impróprias" sobre uma mulher vítima de violência doméstica. Supremo Tribunal de Justiça manteve o castigo ao juiz, que mudou de secção e de nome

Supremo não perdoa Neto Moura, o juiz do acórdão “da mulher adúltera”

Rui Gustavo

Jornalista

Os conselheiros do Supremo Tribunal de Justiça decidiram manter o castigo disciplinar aplicado a Neto Moura, o desembargador que relativizou o crime de violência doméstica com o facto de a vítima ser supostamente adúltera.

Neto Moura, que terá passado a assinar os acórdãos como Joaquim Moura, foi castigado com a pena de advertência registada por ter usado "expressões impróprias, desnecessárias e lesivas da dignidade pessoal e da consideração social" da vítima num caso de violência doméstica e por não ter respeitado o dever de correção.

O juiz, que foi transferido para uma secção cível onde não poderá apreciar casos de violência doméstica, citou a Bíblia e usou o adultério como pretexto para suspender a pena ao ex-marido e ao ex-amante de uma mulher que agrediram com uma moca com pregos.

“O adultério da mulher é um gravíssimo atendado à honra e dignidade do homem. Sociedades existem em que a mulher adúltera é alvo de lapidação até à morte. Na Bíblia podemos ler que a mulher adúltera deve ser punida com a morte. Ainda não foi há muito tempo que a lei penal [de 1886] punia com uma pena pouco mais que simbólica o homem que, achando a sua mulher em adultério, nesse ato a matasse”, escreveu Neto Moura num acórdão que foi assinado por uma juíza, Luísa Arantes, a quem não foi aplicada qualquer medida disciplinar e que confessou nem ter lido o documento que assinou.

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