Hospitais da Nova Zelândia estão a importar dos EUA um recurso médico raríssimo e de imenso valor terapêutico: pele humana. Ao todo, serão 120 metros quadrados de epiderme e derme, as duas camadas superficiais da pele, para tratar mais de duas dúzias de turistas severamente queimados durante a erupção do vulcão Whakaari da ‘ilha branca’ (White Island) no início da semana.
Segundo o balanço clínico mais recente, os hospitais neozelandeses assistiram 27 feridos com queimaduras graves, alguns com lesões em mais de 95% do corpo, dos quais 22 estão em estado ainda considerado crítico. Os médicos estão a apostar na utilização de pele humana para potenciar o tratamento. No caso, a pele queimada é removida logo que possível e feito um enxerto temporário com a epiderme ou derme de dadores. Até à rejeição da nova pele pelo sistema imunitário do doente, em poucas semanas, o tratamento potencia a cicatrização, assim, reduzindo a dor e o risco de infeção e acelerando a regeneração dos tecidos.
As unidades médicas na Nova Zelândia têm pele humana para tratamentos, contudo, o número de vítimas supera em muito os stocks disponíveis. Recorrer ao mercado norte-americano, líder nesta área, foi a única opção. Nos EUA é recolhida pele de 39 dadores todos os anos, permitindo preparar 3,2 milhões de enxertos. A importação agora em curso, de um total de 120 metros quadrados, vai custar milhares de euros ao sistema de saúde neozelandês. Um centímetro quadrado de pele custa cerca de 1,12 euros.
Pele pode ser retirada até 24 horas após a morte
Na maioria dos casos clínicos, os cirurgiões recorrem a pele do próprio ferido para tratar a área queimada mas quando não é possível há recurso a tecido de dadores. Um corpo humano permite recolher 213 metros quadros de pele, com a vantagem de ter um processo de recolha menos exigente do que é necessário para outros órgãos, como o coração, pulmões, rins, córnea ou outros. No caso da pele, a recolha pode ser feita até 24 horas após a morte do dador, de qualquer idade.
Os tecidos a recolher são primeiro analisados para detetar eventuais doenças infeciosas. A recolha é depois realizada em ambiente esterilizado com os mesmos instrumentos no caso de um enxerto comum. A pele é retirada sem expor os músculos ou qualquer estrutura interna, permitindo um funeral normal ao dador. Sempre que são necessárias camadas mais profundas, a pela é retirada de partes do corpo que ficarão cobertas pela roupa.
A pele recolhida tem igualmente um processo de conservação sem grande complicação. A pele é embrulhada em gaze cirúrgica, empacotada e congelada, podendo manter-se conservada para aplicação durante cinco anos. Quando necessária, é descongelada com água salgada aquecida.
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