O plenário da Conferência do Clima de Madrid foi esta quarta-feira de tarde palco de uma conversa inusitada entre o secretário-geral da ONU, António Guterres, em terra, e o comandante Luca Parmitano, chefe uma das missões da Estação Espacial Internacional, no espaço.
O mote da conversa por videoconferência foi o estado do planeta e as sucessivas mudanças verificadas devido às alterações climáticas. “Nos últimos seis anos assistimos a grandes mudanças, já vi desertos a avançar e glaciares a derreter”, relatou Parmitano. São muitas as “fragilidades do planeta que se observam do espaço”. Lá do alto observou os efeitos do furacão Dorian e de outras intempéries e inundações. “Este planeta é o único que temos”, sublinhou, na esperança de que as suas palavras sirvam de alerta para a gente que está em baixo, na Terra. Para o astronauta italiano, “o único inimigo é o aquecimento global”. “Deixem de pensar apenas no agora e tenham uma visão a longo prazo. Temos de dar um passo revolucionário e entender que devemos fazer sacrifícios hoje para ter um melhor amanhã para os nossos filhos.”
Para o astronauta italiano, de 43 anos, “ tudo isto é possível através da tecnologia” e lembrou que para “entendermos o nosso universo foi preciso que diferentes países se unissem, pondo de lado as diferenças”, e que essa “cooperação também é necessária para enfrentar as alterações climáticas, o inimigo comum. Já que, nas suas palavras, o “mais frágil que se vê do espaço são as vidas humanas”.
Na Terra, António Guterres sorriu e ironizou: “Acho que há mais colaboração no espaço do que no conselho de segurança da ONU”
"É tempo de agir" e há 10 prioridades
Antes desta comunicação espacial, o português voltou a discursar na Conferência do Clima para relembrar que “é tempo de agir” e que as provas científicas divulgadas na última semana dão disso conta. “O mundo está mais quente e mais perigoso do que nunca e as mudanças a que assistimos são cada vez mais rápidas e estão a atingir pontos-limite irreversíveis que se vão virar contra nós.”
Guterres apelou mais uma vez para que se pare com o aumento das emissões de gases de efeito de estufa já em 2020, de modo a que “os objetivos do Acordo de Paris sejam ainda realistas”. Para o secretário-geral da ONU, “os próximos 12 meses são cruciais” para que “as próximas gerações não paguem um preço insuportável”.
Para que se consiga cumprir o Acordo de Paris e limitar a subida das temperaturas médias globais a não mais de 1,5 graus Celsius, Guterres definiu 10 prioridades:
1. ter até 2020 compromissos mais ambiciosos dos maiores poluidores;
2. ver outros países a seguir o exemplo dos 75 que já se comprometeram com “emissões zero” ou neutralidade carbónica em 2050;
3. tornar mais ambiciosas as contribuições nacionais de cada país, sobretudo em áreas não equacionadas em 2015, como as soluções baseadas na natureza;
4. garantir que os compromissos nacionais de redução de emissões (NDC) permitem transições justas em termos sociais para as pessoas;
5. assegurar que não se fazem novas centrais a carvão a partir de 2020;
6. aumentar a velocidade para a transição energética para 100% de eletricidade de fontes renováveis; aumentar a eficiência energética e acabar com os subsídios à indústria fóssil;
7. tornar o financiamento mais rapidamente sustentável e acessível, incluindo através do Fundo Verde para o Clima, passando os impostos das pessoas para os poluidores;
8. aumentar o apoio às pessoas mais afetadas pelas alterações climáticas para que tenham um futuro mais resiliente;
9. cumprir os compromissos para com os pequenos Estados-ilha e os países em vias de desenvolvimento;
10. aplicar as iniciativas da cimeira de Nova Iorque e criar roteiros para descarbonizar sectores como os dos transportes, do aço e do cimento.
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