21 setembro 2019 18:31
Q
uando um monge cartuxo morre, os companheiros de clausura fecham-lhe sobre o rosto o capucho branco, costurando-o, para que ao chegar à eternidade só veja o rosto de Deus. Nas mãos, colocam-lhe um terço. Sob o corpo, uma tábua. Desce à terra e nesta é posta uma cruz de ferro, sem identificação. No claustro do Mosteiro de Scala Coeli, às portas de Évora, o ritual repetiu-se 120 vezes entre os séculos XVII a XIX; houve seis defuntos no século XX e duas cruzes foram acrescentadas nesta era. As últimas.
Em outubro, os quatro resistentes que ali vivem vão partir para Espanha. Não queriam abandonar o mosteiro de Scala Coeli — escada para o céu em latim —, concluído em 1598. Desejavam morrer no Alentejo, mas a Ordem assim o determinou. Com eles levam o imenso silêncio que os caracteriza, deixando o testemunho de austeridade da única ordem contemplativa masculina em Portugal. Mas há mil anos que os cartuxos sabem que “Stat Crux dum volvitur orbis” (“o mundo roda e a cruz fica”).
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