Sociedade

Novo aeroporto: 60 personalidades assinam manifesto “Poupem o Montijo”

14 setembro 2019 17:57

josé caria

Figuras da política, da cultura e de associações ambientalistas divulgaram este sábado um documento defendendo "um aeroporto sustentável para Lisboa". Pedem que a localização seja decidida após uma avaliação ambiental estratégica

14 setembro 2019 17:57

Mais de 60 personalidades da vida política e cultural, assim como de associações ambientalistas, divulgaram este sábado o manifesto "Poupem o Montijo". Defendem "um aeroporto sustentável para Lisboa", cuja localização deve ser decidida após uma avaliação ambiental estratégica.

"Será muito difícil, no século XXI, pedir que se encontre uma localização adequada para o aeroporto de Lisboa que não tenha efeitos desproporcionados nos ecossistemas e na saúde das pessoas?", lê-se no manifesto, publicado no jornal "Público" sobre a construção de um novo aeroporto no Montijo, no distrito de Setúbal. Entre os subscritores constam nomes como Ana Zanatti, António Garcia Pereira, António Pedro Vasconcelos, Camané, Carlos Antunes, Carlos do Carmo, Carlos Marques, Carlos Pimenta, Eunice Muñoz, Francisco Ferreira, José Macário Correia, Mário Tomé ou Viriato Soromenho Marques.

Indicando que a Avaliação de Impacte Ambiental sobre a construção de um novo aeroporto no Montijo está em consulta pública até 19 de setembro, os signatários apelam para o contributo da população e das entidades competentes "para ajudar o poder executivo a corrigir a sua visão sobre este projeto insensato", considerando que tal pode condicionar a vida dos portugueses durante os próximos 40 anos. "É essencial avaliar as diferentes alternativas de modo a selecionar aquela que responde, não às exigências das companhias 'low-cost' e da multinacional Vinci, mas às necessidades de segurança aérea, de promoção da saúde pública e da biodiversidade, de integração na rede ferroviária e de mitigação e adaptação às alterações climáticas."

Na perspetiva dos subscritores desta carta aberta sobre o futuro aeroporto para a região de Lisboa, a decisão tem de ser tomada "de forma sistemática, recorrendo a uma avaliação ambiental estratégica, como prevê a legislação nacional e comunitária", lembrando que a expansão do aeroporto da Portela, em Lisboa, não foi alvo de Avaliação de Impacte Ambiental. O manifesto recorda, ainda, a decisão do Governo britânico de abandonar a ideia de construir em Londres, em 2014, um novo aeroporto numa zona de estuário, "por representar um risco desproporcionado para os passageiros aéreos e ser difícil de compaginar com as normas europeias de conservação da natureza".

Sobre a escolha do Montijo para a construção de um novo aeroporto, os subscritores chamam à atenção para os "três milhões de voos de aves no corredor de aproximação à pista norte", registados durante um ano, assim como a poluição sonora e os efeitos das alterações climáticas, nomeadamente a subida do nível do mar, com impacto no estuário do Tejo, que "colocará em risco a viabilidade da infraestrutura aeroportuária". "O estudo de impacte ambiental torna evidente que os impactos negativos são mais significativos que os impactos positivos, pelo que é expectável o chumbo do projeto pela APA, mas, mesmo que a decisão fosse favorável, os promotores teriam de realizar um estudo mais completo sobre o risco de colisão com aves", referem os signatários.

Além da localização do Montijo, o manifesto critica o projeto de expansão do atual aeroporto de Lisboa, interrogando-se sobre o futuro do turismo, da mobilidade e do direito à habitação e à cidade. "As estatísticas mostram que, na última década, os aeroportos de Paris, Madrid, Munique e Roma transportaram mais passageiros com menos aviões. Se a melhoria da qualidade de vida para todos permitir receber mais turistas, é possível fazê-lo mantendo ou reduzindo o tráfego aéreo", é adiantado no manifesto, propondo outras formas de mobilidade, inclusive o transporte ferroviário.