Atendendo à média etária dos professores em Portugal, o país terá de rejuvenescer a sua classe docente no espaço de uma década, na proporção de um em cada dois professores, conclui o inquérito internacional sobre ensino e aprendizagem divulgado esta quarta-feira pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE).
Baseado no Talis, um instrumento de análise elaborado para avaliar e comparar professores, ensino e aprendizagem em 48 países, o relatório revela que em Portugal os professores têm, em média, 49 anos (acima dos 44, a idade média global quando considerados todos os países participantes), sendo que 47% dos docentes têm 50 anos ou mais. Quando se olha para a totalidade dos países incluídos no inquérito, a taxa neste grupo etário é substancialmente mais baixa: 34%.
Em relação ao tempo de aula efetivamente dedicado ao ensino, Portugal está abaixo da média. Os 74% nacionais não só ficam quatro pontos percentuais abaixo da taxa da OCDE como representa uma descida de 4% em relação a inquéritos anteriores, o que significa ter aumentado a percentagem de tempo que os docentes gastam para manter a ordem na salas de aula ou que têm de dedicar para o cumprimento de tarefas administrativas.
Em termos gerais, as relações entre alunos e professores melhoraram dentro das salas de aula desde 2008, uma verdade para a maioria dos países, com 95% dos professores a concordar que estudantes e professores se dão geralmente bem uns com os outros (em Portugal deram esta resposta 97% dos docentes).
Já em relação ao relacionamento entre os próprios alunos, 14% dos diretores escolares referem ter de lidar regularmente com episódios de “intimidação ou bullying” (7% no caso dos diretores portugueses). Este tipo de incidentes diminuíu em vários países desde 2013, aponta o inquérito, ainda que tenha aumentado noutros.
Outro aspeto considerado diz respeito à influência dos fluxos migatórios na composição das salas de aula. Quase um terço dos professores dizem trabalhar em escolas onde “pelo menos 1% da população estudantil são refugiados”, com 17% dos docentes a referir que lecionam em estabelecimentos de ensino onde “pelo menos 10% dos alunos” têm antecedentes migratórios.
Sobre a escolha da carreira, dois em cada três professores da OCDE dizem que o ensino foi a sua primeira escolha, ainda que seja grande a diferença de percentagens entre homens e mulheres: 59% dos professores, valor que compara com 70% no caso das professoras.
Quanto à motivação, 90% dos docentes citam a “oportunidade de contribuir para o desenvolvimento das crianças e da sociedade”, ao passo que 61% mencionam que a segurança associada à carreira contribuiu para a tomada de decisão.
A formação é reconhecida como tendo um impacto positivo no desempenho da profissão por 82% dos professores, com os docentes que dizem participar em ações de formação tendencialmente a apresentar níveis mais altos de satisfação no trabalho.
Neste domínio, contudo, os professores dizem sentir algumas lacunas, nomeadamente no que à formação para o ensino de alunos com necessidades especiais diz respeito.
Os resultados do TALIS 2018 serão divulgados em dois volumes. O primeiro foi apresentado esta quarta-feira, estando previsto que o segundo seja dado a conhecer no início de 2020, com um enfoque em questões como o reconhecimento e oportunidades de carreira.
(Artigo atualizado às 10h50)
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