20 maio 2023 20:49

João Paulo Martins revela semanalmente os segredos do mundo dos vinhos
20 maio 2023 20:49
E screvo da Croácia, onde irá decorrer a edição deste ano do Concurso Mundial de Bruxelas. A esta povoação costeira (Porec) chega-se por autocarro após o voo Lisboa-Veneza, com brevíssima passagem pela Eslovénia. Aqui estamos em terras de Malvasia, a casta branca que domina nesta zona do país. Nada de estranhar, tal a presença que a variedade tem nos países da bacia do Mediterrâneo. No primeiro jantar, chega-nos à mesa um Malvasia pesadão e resolvemos passar aos tintos; um Merlot com gás (!), o que é erro grave e um Cabernet Sauvignon. Provamos e ficamos sempre com a sensação que nos momentos de dúvida, é melhor seguir o instinto e agarrarmo-nos a algo que já sabemos o que nos vai trazer. No fundo, mesmo sem querer, procuramos a tradição, as boas notas apimentadas do Cabernet, o lado verde e com taninos finos. Tudo ligou bem com o jantar buffet, rico e muito variado.
A Croácia tem cerca de 17.600 ha de vinhas, com a produção de branco (76%) a superiorizar-se claramente ao tinto, que se queda pelos 25%. País costeiro, de clima mediterrânico e com 1185 ilhas, tem na Ístria a principal zona produtora de vinhos. A tal Malvasia é uma versão local desta casta que se integra na muito alargada família das malvasias. Também Portugal faz parte deste grupo, já que a casta está bem presente quer no Douro quer na Madeira. E uma versão, digamos, menos nobre desta variedade tem também representação lusa, a chamada Malvasia Rei, muito usada para vinhos vulgares, os tais que não ficam na história. Os croatas reclamam a originalidade desta ‘sua’ malvasia que, é verdade, não encontra semelhanças com outras com o mesmo nome e terá sido referenciada pela primeira vez em 1385. Nos tintos domina também uma variedade local (referenciada desde 1390) e que dá pelo nome de Teran, casta enigmática que até hoje ainda não se lhe descobriu quer a origem quer a filiação; tendencialmente muito produtiva, chega com facilidade às 20 toneladas por hectare se ninguém tiver mão nela. Andamos há dois dias a provar vinhos quer de uma quer de outra e, sem deslumbrar, parece que a malvasia leva mesmo a melhor.