Vinhos

Brancos invernosos e tintos de aconchego: melhor ainda se o Natal for friorento

16 dezembro 2022 14:58

moncherie

João Paulo Rodrigues desvenda semanalmente os grandes segredos do mundo dos vinhos

16 dezembro 2022 14:58

Com a aproximação das festividades natalícias é bom pensar nos vinhos a servir, com alguma antecedência. O facto dos menus estarem de há muito escolhidos — somos muito conservadores nesta matéria — permite ao apreciador tomar decisões com tempo e sem stresse. Já sabemos que não andará muito longe de pratos de bacalhau, polvo (sobretudo no Norte), cabritos, perus e borregos ou outros assados de forno, um pouco pelo país todo. As dúvidas podem colocar-se na escolha de vinhos que possam servir tanto os pratos de peixe como as carnes. Desde há muito que os consumidores se habituaram a designações como “brancos de inverno” e/ou “tintos de conforto”. Nos temas da mesa, a atual “comida de conforto” substitui a antiga designação de “comida caseira”, algo difuso que nos remetia para as receitas familiares, muitas vezes passadas de geração em geração. São as receitas onde não entram toda a parafernália de produtos que agora nos são familiares no supermercado e onde os temperos são simples: algumas ervas aromáticas, algumas especiarias, tudo simples que brilha pela qualidade do produto que era, lembremo-nos, sempre sazonal. Nesta época parece que queremos mesmo, e só, o que a memória de infância nos traz. Já no caso dos vinhos, a designação “caseiro” ou “do lavrador” não gera um consenso tão amplo. Como sabemos, os vinhos do lavrador, pouco protegidos e feitos com pouco apuro técnico, tendem sempre a ter vida curta. É claro que continuam a ser “do lavrador”, mas daí não vem qualquer mais-valia. Já só alguns idealistas continuam a achar que o vinho do lavrador é o puro. Passemos adiante. Regressando às escolhas, os brancos que podem acompanhar carnes e peixes são sempre vinhos mais encorpados, alguns feitos com curtimenta (fermentados com as películas), com estágio em madeira ou que resultam de um lote de várias colheitas. Para esta semana escolhi uma novidade da empresa Caminhos Cruzados. Trata-se de um branco sem data porque resulta de um lote de várias colheitas, no caso, 2016, 17 e 18. Na enologia pontifica Manuel Vieira, enólogo que criou este modelo na Quinta dos Carvalhais com o Branco Especial, modelo que aqui é reproduzido. O conceito é tão válido e tão interessante que tem sido replicado por muitos produtores, quase sempre com muito bons resultados. É claramente um branco invernoso. Outra modalidade de branco é o estagiado em madeira. Para que não se transforme num “destilado de carvalho”, o vinho a estagiar tem de ser já de si bem encorpado e cheio para que, depois, resulte com bom equilíbrio final. É o caso do Garrafeira da Aldeia de Cima, um alentejano da Vidigueira, cheio de carácter. Ambos são vinhos que devem ser bebidos a uma temperatura de cerca de 12°. Há muitos vinhos com este perfil, alguns sem madeira nova mas estagiados em balseiro (como na Quinta das Bágeiras) e, desta forma, o conselho junto do vendedor pode ajudar-nos nas escolhas. O tinto é um grande vinho, a mostrar que, com mestria, se podem usar uvas de vinhas velhas para criar um vinho que não desdenharíamos em colocar à compita com outros tintos do mundo. É provável que ainda se encontrem no mercado colheitas anteriores, e o 2012, por exemplo, mostrou-se grandioso há apenas uma semana.