20 novembro 2022 16:37
O crítico de vinhos João Paulo Martins revela, semanalmente, os segredos sobre o mundo dos vinhos e das vinhas
20 novembro 2022 16:37
Para quem anda em provas, em visitas a produtores e a receber constantemente notas de imprensa por tudo e por nada, é certo e sabido que já percebeu que há regiões mais dinâmicas que outras e produtores mais atrevidos que gostam de dizer e mostrar o que andam a fazer. Num mundo tão carregado de marcas de vinho, num universo em que produtores se pisam ou devoram uns aos outros, onde o jogo dos preços dita a lei de quem sobrevive e quem morre, neste ambiente, dizia, percebe-se mal que um produtor fique sentado em casa à espera que o seu vinho se venda, quem sabe por milagre ou intervenção divina. Não é o caso dos três produtores que trago hoje como sugestão. Têm, entre si, algo em comum: não fazem parte do ‘núcleo sexy’ que atrai, quer a comunicação social da especialidade quer a generalista. Invariavelmente são quase sempre os mesmos produtores que são falados na imprensa, são sempre os mesmos que os winewriters visitam quando vêm a Portugal. E visitam sempre as mesmas regiões. Aos outros, sobretudo se estiverem fora do Douro, é melhor esquecer, dificilmente terão a sorte de serem contemplados. Um dos que falo esta semana, Domingos A. Sousa, confessou que durante anos nunca conseguia que esses visitantes tivessem um momento para ir à quinta, conhecer o projeto e provar os vinhos. Penso que o termo resiliência lhe assenta muito bem. Vai à luta, não desarma, não faz escarcéu; são os seus vinhos que falam, as vinhas velhas que trata com esmero dão-lhe razão, sabe bem que neste negócio desistir não é opção. O seu Gaivosa, agora em modo comemorativo dos 30 anos de vida, é um grande vinho do Douro. Não precisou de ser do ‘núcleo sexy’ para ganhar o lugar que agora ocupa. Às vezes esquecemo-nos...
O branco do Dão, com a varinha enológica de Nuno C. Abreu, ostenta o título de Dão Nobre, a classificação mais alta que os vinhos da região podem ambicionar. Nuno já a obteve, com vinhos brancos, por três vezes. Além dele, apenas um tinto da Casa de Santar teve direito ao título. Muito pouco como se vê, e não se percebe; a região tem um conjunto muito alargado de vinhos candidatos, assim as câmaras de provadores não tenham receio de premiar os bons com classificações elevadas. Nuno conseguiu o 1º Dão Nobre em 2015, depois 18 e agora com o 2019. Não se estranha que a Encruzado seja a variedade dominante; ela é, atualmente, responsável pelos melhores vinhos da região. Mais uma que não é sexy nem anda nas bocas dos que dizem “que são uma espécie de críticos”, mas está, seguramente, no patamar de cima das melhores castas portuguesas (noutra crónica falarei das que eu entendo lhe fazem companhia no primeiro patamar). Não brilha? Às vezes esquecemo-nos...