23 setembro 2022 19:42
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O crítico de vinhos João Paulo Martins revela-lhe, semanalmente, como funciona este mundo
23 setembro 2022 19:42
Qualquer época do ano é boa para a ‘limpeza’ da garrafeira, assim haja espaço e folga no cartão bancário. As feiras de vinhos — normais em finais de verão — já foram, há umas boas duas décadas, grandes momentos em que muitos produtores aproveitavam para lançar as novas colheitas. Os catálogos eram apetecíveis mas já então se praticavam técnicas de venda que muito irritavam os consumidores: no catálogo anunciava-se um grande vinho, daqueles mais cobiçados, mas não se dizia que o produtor apenas tinha disponibilizado meia dúzia de caixas para todo o país. Conclusão: procurava-se mas nunca se encontrava a tal maravilha que se anunciava a preços convidativos! Esse tempo passou e hoje, por força das promoções enganadoras que as grandes superfícies praticam todo o ano, o tal fascínio das feiras esfumou-se. Isso não significa que não se façam boas compras, mas é verdade que uma feira será muito mais proveitosa para quem estiver atento à imprensa que fala destes temas e onde se possa recolher informações sobre os vinhos.
Com a proliferação de marcas, o mais provável é que o consumidor se sinta perdido sem saber o que comprar. Nestas situações há alguns elementos que podem dar-nos pistas: o nome do produtor pode ser um dado importante; a marca pode ser nova, mas, se temos confiança no produtor, vamos assumir que será uma boa aposta; o nome do enólogo — se indicado — pode também dar-nos uma boa informação, ainda que o desenho e o perfil dos vinhos seja feito pelo produtor e ao enólogo se peça que interprete essa vontade. O preço pode orientar-nos; há uma gama de preços que todos os produtores consideram difícil: vender vinhos entre os €10 e os €20 não é nada fácil e, por norma, convém ganhar algum fôlego nas gamas mais baixas para depois se dar a ideia ao consumidor que o salto para aquele patamar é justificado. A verdade é que temos belíssimos vinhos neste nível, como aquele que hoje sugiro. É neste patamar que se costuma dizer que Portugal não tem de temer um confronto em prova cega com quaisquer vinhos do mundo.