13 agosto 2022 16:56

anthurren
Não param de chegar ao mercado os novos vinhos. É de destacar a enorme, para não dizer gigantesca, proliferação de vinhos rosés
13 agosto 2022 16:56
À data em que escrevo, já vários produtores do Alentejo iniciaram as vindimas. Isto só por si não é propriamente novidade; relembro quando, há talvez uns 20 anos, fiquei boquiaberto quando soube que no Ribatejo a empresa Fiúza estava a vindimar Sauvignon Blanc ainda em julho. É claro que tudo isso choca com o nosso imaginário de vindimas que, invariavelmente, caía sempre em setembro, e muitas vezes se prolongava até outubro. Atualmente aos enólogos apenas são autorizadas férias em julho, já que, a partir de agosto, há que estar em sentinela. Já nem aquela desculpa da “pouca maturação fenólica” é aceitável para ficar mais uns dias na praia. Conheço também uma empresa do Alentejo que nos últimos anos acabou a vindima, ainda que por coincidência, sempre no mesmo dia: 18 de agosto, data em que zonas como Lisboa ou Vinho Verde, poderão nem sequer ter começado os trabalhos. São alterações climáticas, é o clima a fazer das suas. No Douro nada de muito brilhante se vislumbra: pouca produção porque os bagos estão raquíticos e, mesmo nos casos onde a rega era possível, existe o problema... de falta de água. Sem água, sem muita, muita água, não se faz uma vindima. Podemos, sem qualquer exagero, falar da proporção de 1 para 3, ou seja, por cada milhão de litros de vinho produzidos são precisos, pelo menos, 3 milhões de litros de água. Ora, fica a pergunta: onde é que ela está? O drama segue nos próximos dias e, para quem acha que ajuda, é melhor começar a rezar.
2 Entretanto, não cessam de chegar ao mercado os novos vinhos. É de destacar a enorme, para não dizer gigantesca, proliferação de vinhos rosés. Com algum risco de estar enganado, quase me atrevo a dizer que serão poucos os produtores que neste momento não incluem o rosé no seu portefólio. Hoje trazemos mais um e nas próximas semanas assim continuaremos. A justificação tem tudo de positivo: os vinhos estão em geral muito bem feitos, moldaram-se ao perfil internacional ditado pela região francesa da Provence, mas ganharam já o seu estatuto e a sua carta de alforria: já não estão à sombra do pai, já não precisam nem de gás nem de açúcar para vingar no mercado e todos ficamos a ganhar. É verdade que a hierarquia de preços nestes vinhos é enorme e nem sempre justificável: por norma, são vinhos de feitura fácil, sem estágios prolongados e que podem chegar cedo ao mercado. Tal como noutros tipos de vinho, vende mais caro quem pode, não quem quer. É também verdade que, numa prova cega, alguns vinhos de €4 podem ficar mais bem classificados que outros de €20, mas essa é uma dúvida que também se coloca em relação a muitos outros vinhos. O nome do produtor, o prestígio da marca, a oferta e a procura podem ser razões suficientes para a grande variedade de preços que se encontram no mercado. Há alguns com preço justificadamente mais alto — estágio em madeira, seleção de uvas, raridade da casta, entre outras —, mas a maioria resulta de uma simples fermentação em inox e, pelo baixo custo, pode originar um vinho acessível. As escolhas ficam do lado do consumidor.