Restaurantes

Restaurantes: Antiga Camponesa é uma nova burguesa

4 fevereiro 2023 11:36

ana brígida

A casa típica levou nova roupagem, nome proto-histórico e viragem na carta rumo ao presente

4 fevereiro 2023 11:36

A Camponesa, cercada de tasquinhas, bares, comida indiferenciada e poisos de cozinha moderna ou de fusão, a meio caminho entre a noite do Bairro Alto, decidiu cerrar as suas grandes vitrinas no dealbar da última primavera. O compositor encarregado de tocar as próximas estações foi André Magalhães com os seus sócios da Taberna da Rua das Flores. No fim do verão, o espaço ganhou elegância nos candeeiros, contraste de tons bege e verde de fundo, com os padrões vibrantes do mosaico do chão.

O novo nome é Antiga Camponesa, remetendo para algo histórico e muito tradicional, porém, combina modernidade e tipicidade. O chefe André Magalhães — também consultor e versado em história da alimentação, com incidência na de Lisboa — foi o anfitrião logo à nossa chegada. Com o seu conhecimento construiu uma carta de propostas curta, de produtores e produtos selecionados pela proximidade e sazonalidade. Bom começo no “Pão, paté e azeite” (€3,50 pax) com uma excelente manteiga de anchovas, tapenade de belas azeitonas, pão saloio de miolo húmido. Depois uns quatro minipastelinhos esféricos de bacalhau, ricos em lasquinhas dele e saborosos, oferecidos como ‘entrada do dia’, mas que não foram para todas as mesas (!?). Os “Mexilhões panados, piso de coentros” (€10) não foram a panar, mas sim a albardar num polme fino de farinha e água, estilo tempura, a envolver o miolo de cada bivalve, de calibre médio. Saborosos e suculentos, nada mirrados, com a fritura enxuta, e ao lado o piso com agradável nota picante suave. Na “Tiborna de cogumelos selvagens” (€15), uma tosta trazia trompetas da morte e cantarelos estufados, só que estes últimos com o desagradável efeito desanimador de trazerem areia entre alguns folículos. Ainda assim, o sabor silvestre (não selvagem!) dos fungos era profundo e uma mais-valia para o conjunto. Ligação feliz a “Beterraba, queijo da Maçussa e nozes” (€9), com rodelas grossas do vegetal terroso, pedaços do chèvre curado com carvão alimentar, nozes, e hastes de rúcula de cariz picante.