Restaurantes

Restaurantes: Quase na rua rosa do Cais do Sodré, o Bono tenta ser mediterrânico, local, cosmopolita... e bom!?

2 dezembro 2022 16:36

O crítico gastronómico Fortunato da Câmara provou os principais pratos da carta e dá o seu veredito

2 dezembro 2022 16:36

A zona fervilha de bares, outrora frequentados por marinheiros que atracavam no cais dominado pela família Sodré, todo o fulgor contido pelos mares. Traziam desejos desabridos, prontos a desaguar fúria ou luxúria em cada recanto ou ruela. Por ali, vivem-se agora festejos e anseios futebolísticos das nações unidas, ao redor de todas as cervejas desejadas e permitidas numa capital europeia multicultural, antítese de emirado, e que se espera tolerante. Tão tolerante que chega a ser errante como a oferta de restauração. Ainda não há cá de tudo, mas parece que vai valendo tudo, tentando fazer-se a quadratura do círculo.

Saindo das ruas rosadas do Cais do Sodré, na direção do Corpo Santo sobe-se a Calçada do Ferragial — “campo em que se cultivam plantas ou ervas para a alimentação do gado, ferregial” — quiçá boa morada para um restaurante plant based, já que havia storytelling para o conceito e ‘impactar’ (diz-se!) o cliente-alvo. Mas não. Surgiu o Bono! Será que o Bono Vox dos U2 também se rendeu e investiu em Olissipo, agora que todos os caminhos vêm dar a Lisboa? Também não. O Bono abriu em 2020, é uma corruptela (desajeitada) da palavra ‘bom’ e pretende muita coisa em poucas linhas: cozinha mediterrânica de vocação atlântica; gastronomia cosmopolita; casual dining; produtos locais; refeição artesanal em espaço intimista. Ideias ambivalentes e delicadas de gerir num centro turístico. O espaço é bonito e confortável, de cozinha à vista.