Restaurantes

Restaurantes: no ano da libertação de restrições, o Pica Pau mostra a cozinha portuguesa a gostar dela própria

18 novembro 2022 11:00

nuno botelho

O crítico gastronómico Fortunato da Câmara provou os principais pratos e dá o seu veredito

18 novembro 2022 11:00

Lapalisse, um dia disse...” — não disse. O malogrado Jacques de Chabannes (1470-1525), cavaleiro francês do séc. XVI, ficou com a fama das obviedades às costas, mas era um bravo que não virava a cara à luta nem se perdia com banalidades. Deixou as terras de La Palice, na sua família há várias gerações, e venceu mais de uma dúzia de batalhas ao serviço de três reis. Na sua morte em combate, um verso escrito em sua homenagem deu origem a um erro de interpretação que os ligam aos truísmos. Mesmo sabendo-se que a reputação de dizer coisas óbvias foi-lhe erradamente atribuída já depois de ter morrido, a vila de Lapalisse atrai turismo fruto desta ‘óbvia’ curiosidade sem fundo de verdade.

Afirmar que um restaurante de base moderna que faça cozinha tradicional com todos os cânones tem espaço para o sucesso, mesmo numa encruzilhada turística, pode ser um pensamento óbvio ou o desafio para uma batalha heroica. Há uns tempos houve uma investida corajosa chamada Casa Lisboa, em pleno Terreiro do Paço. Campo demasiado aberto para um restaurante que tinha a ambição de fazer boa cozinha. Os três éles de sucesso da restauração, que são sempre a localização, não deve ter ajudado. Não houve baixas, e a mesma equipa fez agora nova investida, pegando na boa cozinha e em vários pratos já aí eram servidos, mas a tentarem agradar a gregos e troianos, o chefe Luís Gaspar e a Plateform fixaram a estratégia em fazer o mais tradicional possível e voaram com a ideia para o Príncipe Real sob o nome de Pica Pau.