Na moda, da ponta do cabelo à planta dos pés, tudo conta - até a fragrância de um perfume. A visão de Paco Rabanne e o que perde a indústria com a sua morte, aos 88 anos
Paco Rabanne, segundo o próprio, significa em árabe “o sopro da alma solar invade o mundo”. E invadiu-o, revolucionando a indústria da moda com o seu olhar visionário e o talento de mãos herdado pela mãe – não fosse também ela costureira, na Balenciaga. Francisco Rabaneda y Cuervo nasceu em 1934 e morreu esta sexta-feira mas, durante os seus 88 anos de vida, mais do que o nome que se eterniza nas vozes daqueles que ficam, deixa um legado.
Francês que nasceu no norte espanhol, de onde saiu para fugir à Guerra Civil, levou Salvador Dali a autointitular-se, no coletivo, “génio”. “Só há dois génios em Espanha, eu e o Paco Rabanne”. Mas antes de se conhecerem e darem origem a uma Galeria de Arte na cidade de Barcelona, o percurso do estilista fez-se picotando o mercado com irreverência: foi ele quem fez cair a agulha e o linho, para introduzir um novo elemento, o Rhodoid.
AUTÊNTICAS OBRAS DE ARQUITETURA
Em 1951, ingressou no curso de arquitetura na Escola Nacional Superior de Belas Artes de Paris, o que talvez lhe tenha dado as ferramentas que resultaram nos desenhos quase arquitetónicos das suas peças de roupa e bijuteria. Passava noites a criar, de lápis e papel na mão.
No ano de 1963 já tinha vendido centenas de desenhos a revistas de renome. Eis senão quando decidiu aplicar o seu talento à prática e produziu a sua primeira linha de acessórios e roupa, a “Pacotilles”, sem utilizar os materiais de costura convencionais, como recorda no vídeo de animação onde a sua história é contada - para que seja fixada pelo próprio e não por outros.
“Pacotilles” foi a primeira cruzeta a pendurar no seu armário de sucessos. Três anos depois, em 1966, na cidade de Paris, desenvolveu a sua primeira coleção - “The Manifesto Collection” onde apresentou 12 vestidos feitos a partir de material contemporâneo. Poucos meses se passaram e já apresentava uma segunda: “Rhodoid Bathing Suits”, que lhe deu o cunho de primeiro estilista a organizar um desfile de moda com música e dança.
Já nas bocas do mundo, reconhecido pela irreverência que ganha vida nas suas peças feitas a partir de materiais como o alumínio, o metal, ou mesmo papel, Paco Rabanne entrou na indústria da moda e vingou, trabalhando com vários nomes sonantes. Em 1969 idealizou – e concretizou – um vestido dourado coberto de diamantes para Françoise Hardy, a compositora e cantora francesa. Especula-se que este tenha sido o vestido mais caro até então.
O CHEIRO DO SUCESSO
Foi no mesmo ano, à entrada dos anos setenta, que começou a virar as atenções para um outro mundo: o das fragrâncias. Um elemento de moda que não se vê, mas sente. E sentido foi o adeus à sua carreira de estilista, que veio a ser ocupado por uma outra rampa de lançamento que levou à criação de perfumes como “1 Million” ou “Invictus”.
Esta sexta feira, morre Francisco Rabaneda y Cuervo. A notícia foi confirmada pelo autarca da pequena cidade portuária de Vannes, na Bretanha, David Robo. De acordo com o jornal “Le Télégramme”, o criador de moda morreu na sua casa de Portstall (Finistère, também no noroeste francês).
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