21 abril 2023 13:28

Toda a cidade se transforma para receber de forma flexível estes conteúdos. Sejam grandes museus e universidades, sejam armazéns industriais na periferia, sejam casas privadas, ateliers e lojas, tudo se transforma em abril
21 abril 2023 13:28
O desenho das cidades actuais, a sua funcionalidade e interesse para quem nelas vive ou as visita, resulta de muitos factores e conjugações. E nós vemo-las evoluir ou soçobrar, algumas por motivos quase imperceptíveis, mas de grande impacto, outras devido a estratégias bem pensadas, que acabam por ter bons resultados.
Já desde há quase três décadas que venho regularmente a Milão. Cidade no norte de Itália, sem a beleza calorosa e sensual de Roma, sóbria, cinzenta e funcional. Gosto muito da dureza segura de Milão. Sempre gostei, e ver a forma como esta cidade tem evoluído positivamente no tempo tem sido um prazer, principalmente porque essa evolução está relacionada com a atenção que esta presta ao design e à cultura, para além de ser, do ponto de vista histórico, o centro nevrálgico de uma zona fortemente económica. Aliás, é um evento inicialmente apenas económico que tem tido enorme influência no evoluir desta cidade, o Salone del Mobile. A funcionar desde 1661, o Salone, e mais recentemente todo o sistema orgânico que é o Fuorisalone, ou sejam, todas as actividades que se passam fora do recinto da feira de design mais importante do mundo, tem trazido uma energia cosmopolita para Milão que não acontece em quase mais nenhuma outra cidade italiana. A ponte que o design faz entre cultura e economia e a forma como uma feira dirigida para o mercado global se abre à componente mais experimental e cultural, que invade toda a cidade, inovam Milão, ano após ano. A este evento soma-se um outro, a feira de Arte de Milão, a MIART, que agora está estrategicamente colada em termos de calendário ao Salone, antecedendo-o, fazendo com que muitas das instituições culturais milanesas, principalmente as mais contemporâneas, inaugurem exposições antes do Salone. Ou seja, o público internacional do design e das empresas quando chega a Milão tem uma série de conteúdos culturais de grande qualidade para consumir, além dos próprios eventos e conteúdos relacionados com design. E toda a cidade, sejam espaços públicos ou privados, mais ou menos institucionais, se abre a estas duas componentes e se transforma para receber de forma flexível estes conteúdos. Sejam grandes museus e universidades, sejam armazéns industriais na periferia, sejam casas privadas, ateliers e lojas, tudo se transforma em Abril.
Este é um artigo do semanário Expresso. Clique AQUI para continuar a ler.