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Voltar à Serra da Estrela? É para já. Guia de um lugar a redescobrir

16 setembro 2022 20:18

Ana Fonseca/Boa Cama Boa Mesa

d.r.

A paisagem voltou a estar serena, pronta para se regenerar nas próximas estações. Com muitos locais a conservarem o típico verde da serra da Estrela, há passeios deslumbrantes, segredos e aventuras sem fim para desfrutar. É tempo de regressar ao ar puro e admirar esta paisagem curativa capaz de sossegar a alma

16 setembro 2022 20:18

Ana Fonseca/Boa Cama Boa Mesa

As temperaturas amenas e a paisagem que aos poucos se transforma para se renovar fazem do fim do verão uma época especial na serra. Com tanto para descobrir, comece por um dos locais ainda muito inexplorados, o vale do rio Beijames, onde há mais de 70 espécies de árvores. Bétulas, carvalhos, castanheiros, cedros, faias, sequoias, teixos ou cerejeiras convidam a um passeio de descoberta a pé ou de bicicleta. Em pleno Parque Natural da Serra da Estrela, percorra as margens do rio a caminhar, escolhendo a distância adequada à vontade, apreciando os socalcos pontuados de agricultura tradicional que resiste. Se o tempo estiver de feição, pode mergulhar nas águas límpidas do Beijames e até pescar. Se preferir a bicicleta como meio de locomoção, saiba que a partir de outubro, a Estrela Ebike (tel. 967 244 505) propõe a rota temática “Ovelhas, Queijo & Natureza” (desde €45) aos comandos de uma bicicleta elétrica. O programa contempla a visita completa à Queijaria Vale do Beijames (tel. 961 873 747), para estar em contacto com as ovelhas bordaleiras e, à medida que o outono se adensa e começa a época de produção, entre outubro e novembro, também participar da ordenha, provar e comprar. O passeio prossegue de e-bike ou a pé ao longo do vale. Embora permaneça o rasto dos incêndios, visível nas encostas, resistem os verdes socalcos agrícolas acompanhados pelo azul da ribeira. Com sorte, poderá avistar a águia Bonelli, já que a zona do vale do Beijames é considerada um dos últimos redutos desta espécie rara. Se aprecia o voo livre das aves, saiba que a 1 e 2 de outubro decorre o fim de semana Europeu de Observação de Aves, com um programa de atividades gratuitas que percorre várias altitudes, desde as partes mais baixas do rio Mondego ao alto da Torre, passando pelo vale do Rossim e Penhas Douradas, cobrindo diferentes habitats das espécies que elegem a serra. Para participar contacte o CERVAS (tel. 919 457 984) e o CISE (tel. 238 320 300).

Para chegar a este local escondido, quase secreto, é preciso atravessar uma fenda no meio de um penhasco gigantesco e caminhar. A 1700 metros de altitude, a Nave da Mestra é um antigo abrigo de pastores e rebanhos só acessível a pé. O tempo parece não ter passado por aqui. Diz a lenda que em 1910, a família Matos Preto mandou construir uma casa de férias também com a intenção de que o espaço pudesse servir de abrigo a reuniões clandestinas antirregime. Envolta em grande mistério está ainda a forma como terá sido colocada a enorme laje de granito que serve de teto ao que foi o anexo onde se guardavam os cavalos. Atualmente abandonada, ao longo dos anos foi servindo de abrigo a pastores e rebanhos, e de local de descanso e contemplação para montanheiros e caminhantes. O local é acessível a partir da PR4MTG — Rota do Carvão, um percurso circular com 20 km que conta uma parte da história de Manteigas, intimamente ligada à pastorícia, ao centeio e à floresta. Na zona de maior altitude era produzido carvão para venda na vila através da queima da raiz da urze, popularmente designado de borralho. Siga o caminho até a “Talisca”, uma fenda que rasga um gigantesco penedo e que conduz o visitante até ao riacho e ao pasto, qual porta mágica. Ao longe avista-se o vale da Candeeira, a depressão do Vale Glaciar e a Lagoa Comprida.