18 março 2023 11:46

kunstmuseum den haag
Samuel Jessurun de Mesquita (1868-1944), o artista assassinado pelos nazis que vivia em Amesterdão, fazia parte da comunidade judaica de origem portuguesa. Mesquita não se destacou como artista a nível internacional e talvez tivesse ficado quase esquecido entre milhões de vítimas se a única fonte de memória fossem as obras de arte que criou. Só que houve outro artista holandês que fez questão de salvar e divulgar as obras sobreviventes
18 março 2023 11:46
No último dia de janeiro de 1944, um artista foi preso na Holanda pelas forças ocupantes alemãs, na companhia da mulher e do filho. O artista era holandês e tinha ignorado os pedidos de vários amigos, recusando esconder-se apesar de ser judeu. Foi deportado e viria a ser morto com a mulher passado pouco tempo, no campo de concentração de Auschwitz, na Polónia. Logo a seguir, em março, o filho do casal esteve entre os prisioneiros assassinados no campo de concentração de Terezín, que tinha sido criado pela máquina de extermínio nazi onde é hoje a Chéquia. Este artista assassinado pelos nazis chamava-se Samuel Jessurun de Mesquita (1868-1944) e vivia em Amesterdão, onde fazia parte da comunidade judaica de origem portuguesa. Podemos vê-lo na imagem num autorretrato de 1935. Não sendo dado a viagens, Mesquita inspirava-se nas pessoas, animais ou plantas que estavam mais próximas. A par deste interesse por representações da realidade, também criava obras gráficas a partir da imaginação. Mesquita não se destacou como artista a nível internacional — e talvez tivesse ficado quase esquecido entre milhões de vítimas da guerra e do extermínio programado pelo regime nazi, se a única fonte de memória fossem as obras de arte que criou. Só que houve outro artista holandês que fez questão de salvar e divulgar as obras sobreviventes. A seguir à II Guerra Mundial, foi organizada em 1946 a primeira exposição retrospetiva de Mesquita em Amesterdão, no Stedelijk Museum Amsterdam. A iniciativa partiu de M.C. Escher (1898-1972), que foi um dos artistas holandeses a alcançar relevância mundial no séc. XX. Anos antes, Escher tinha sido convencido a desistir de arquitetura por Samuel Jessurun de Mesquita, de quem era aluno. É que para o professor, aquele aluno poderia vir a ser um artista gráfico incrível. E mais valia deixar os projetos para os outros. O professor tinha toda a razão e o antigo aluno de arquitetura tornar-se-ia mesmo um artista genial.
O assassínio de Mesquita marcou Escher. Além de professor e aluno, eram amigos. E influenciaram-se um ao outro na arte, como se pode agora ver em Haia na exposição “De ontdekker van Escher” [O homem que descobriu Escher], até 1 de outubro no Escher in Het Paleis, um palácio dedicado à obra de Escher que merece ser conhecido no centro de Haia. Nesta exposição temporária, várias obras de Mesquita e de Escher podem ser vistas lado a lado, num momento simbólico que acontece a pretexto das comemorações dos 125 anos do nascimento de Escher.
Este é um artigo do semanário Expresso. Clique AQUI para continuar a ler.