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“A Linguagem da Beleza na Arte Africana”: cachimbo sul-africano em exposição com grandes nomes da arte

“A Linguagem da Beleza na Arte Africana”: cachimbo sul-africano em exposição com grandes nomes da arte
Franko Khoury

Até 27 de fevereiro, uma exposição em Chicago junta um cachimbo Nguni, esculpido no séc. XIX, a outras obras com cachimbos - criadas por artistas como Joan Miró, Pablo Picasso, Man Ray, James VanDerZee, Katsushika Hokusai ou Le Corbusier

João Pacheco

O tráfico negreiro contribuiu para moldar o que é o mundo de hoje, com a deslocação forçada de milhões de pessoas, guerras, morte, escravatura e a promoção da riqueza e do poder de alguns dos envolvidos, em vários continentes. Existe repercussão em fortunas atuais, sobretudo nos Estados Unidos e na Europa. E é também claro o eco desta tragédia na pobreza endémica de uma parte de África e também na economia de países como o Haiti.

Além da sangria provocada pela escravatura, tem existido uma ligação ao longo de séculos entre a descoberta de riquezas naturais em África e a aniquilação de povos e culturas. Este cachimbo Nguni (na imagem) foi esculpido no séc. XIX, pelas bandas do território da atual África do Sul. E faz agora parte da exposição “The Language of Beauty in African Art” [A Linguagem da Beleza na Arte Africana], no Art Institute of Chicago.

É claro que existe beleza neste cachimbo esculpido em forma de mulher. Mas trata-se de uma beleza problemática que pede um olhar crítico, como o que é proposto por esta exposição

Até 27 de fevereiro, este cachimbo está exposto no mesmo museu que tem na coleção outras obras com cachimbos, criadas por artistas como Joan Miró, Pablo Picasso, Man Ray, James VanDerZee, Katsushika Hokusai ou Le Corbusier. E, sim, no mesmo museu existe uma versão em guache do cachimbo de René Magritte (1898-1967), com a famosa frase “Ceci n’est pas une pipe” [Isto não é um cachimbo]. Já este cachimbo Nguni é mesmo um cachimbo. E faz parte da coleção do Smithsonian National Museum of African Art, em Washington, de onde veio para esta exposição temporária.

É claro que existe beleza neste cachimbo esculpido em forma de mulher. Mas trata-se de uma beleza problemática que pede um olhar crítico, como o que é proposto por esta exposição. É que a beleza será apenas uma parte do que este cachimbo transporta, por ter nascido num contexto de guerra e de migração forçada de pessoas. No mesmo século em que esta peça foi criada, um recurso natural deu motivação acrescida a várias campanhas militares nesta parte de África. Sobretudo a partir de 1886, com a descoberta de grandes reservas de ouro.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

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