Planetário

Como Warhol desconstruiu a figura de Mao Tsé-Tung (e serviu os interesses americanos através da arte)

27 agosto 2022 9:19

João Pacheco

Neste sorriso beatífico e pop, transparece mais a desfeita do que a homenagem, porque é retirada potência à imagem de um líder. Havia um contexto político óbvio quando o mestre da arte pop maquilhou e efeminizou o retrato do líder da China comunista, em 1972

27 agosto 2022 9:19

João Pacheco

Podemos estar a boiar na água salgada do mar. Fechando os olhos por segundos, é fácil pensar em Marilyn Monroe. A imagem mantém-se na memória coletiva, seis décadas depois da morte da maior sex-symbol de sempre. Há muitas explicações para este fenómeno, por exemplo a antiga omnipresença da máquina de propaganda de Hollywood. Andy Warhol contribuiu também para a durabilidade deste símbolo da fama e do glamour do século XX, multiplicando-o em pinturas e serigrafias com cores variadas. A seguir, o artista norte-americano daria o mesmo tratamento a outras caras fáceis de reconhecer, como esta do líder chinês Mao Tsé-Tung (na imagem).

Neste sorriso beatífico e pop, transparece mais a desfeita do que a homenagem, porque é retirada potência à imagem de um líder. É difícil aceitar inocência ou sequer uma postura apolítica de Warhol nesta desconstrução. E nem me refiro a questões de sexualidade. É que havia um contexto político óbvio quando este mestre da arte pop maquilhou e efeminizou o retrato do líder da China comunista, em 1972. O Presidente norte-americano Richard Nixon tinha visitado a China em fevereiro, abrindo caminho a relações diplomáticas entre o gigante asiático e os Estados Unidos da América. A visita era uma grande novidade, que tinha sido preparada com muito tempo de antecedência, seguindo-se a um convite da China à seleção norte-americana de ténis de mesa.

Este é um artigo do semanário Expresso. Clique AQUI para continuar a ler.