Passeio Público

Boris Charmatz: “Venho fazer a cidade dançar”

11 outubro 2022 14:29

sébastien dolidon

Treze anos depois da morte de Pina Bausch, Boris Charmatz assume a direção da emblemática companhia de dança-teatro, o Tanztheater Wuppertal

11 outubro 2022 14:29

Boris Charmatz é um nome incontornável da dança mundial que se tem apresentado em Portugal, desde o início da sua carreira como coreógrafo — em 1997, a Culturgest dava a conhecer “Aatt…enen…tionen”, espetáculo para três corpos, separados em altura, em três pisos de uma torre. Com ele a dança tem desafiado fronteiras, irrompido pelo espaço público, visitado o passado e até ganhou estatuto de museu — é dele o Museu da Dança que invadiu a Tate Modern (Londres) em 2015. Este ano já esteve no Porto e em Lisboa. A partir deste mês é o novo diretor artístico do Tanztheater Wuppertal.

Tem desafiado a noção e o contexto da dança. Levou a dança para o museu, dedicou uma coreografia aos gestos de comer… Na primeira peça que apresentou em Portugal, os bailarinos dançavam em plataformas de diferentes alturas, vistos de baixo pelo público.

Começa tudo com desejos. Tinha vinte e poucos anos nessa primeira peça que apresentei em Portugal, na Culturgest, “Aatt…enen…tionen”, foi a primeira vez que comi bacalhau à Brás, e podemos dizer que estávamos a ‘performar’ nesta plataforma de três níveis, que há o desafio da altura para o bailarino que está no topo. Mas também é desafiante estar a dançar em T-shirts e nu da cintura para baixo, como estávamos os três. Mas nada disto surge de querer fazer algo desafiante ou até perigoso, vem do facto de, como bailarino, trabalhar com os outros bailarinos em muitas coreografias e dávamos as mãos e tínhamos de sorrir uns para os outros. Tínhamos de fazer os mesmos movimentos no mesmo espaço. Pensei que na realidade estamos a provar que somos uma família simpática de dança? Não somos. Depois, se há uma coisa que precisamos de provar enquanto grupo é que somos individuais dentro deste grupo e estamos a lutar, estamos a fazer esforço. Não funcionava sorrir e olhar uns para os outros. Isso para mim não tornava mais forte a nossa conexão. Então, fizemos “Aatt…enen…tionen”, em que estamos separados. Na realidade, nesta plataforma de três níveis em que estamos fisicamente separados a nossa conexão torna-se muito mais forte do que se estivéssemos juntos num contacto-improvisation ou algo do género.