Fazer scroll infinito no telemóvel até, sem querer, encontrar uma notícia partilhada por alguém e inconscientemente clicar nela. Este fenómeno é tão frequente que já tem um nome — incidental news — e está a ser catapultado pelas redes sociais. É cada vez mais comum as pessoas utilizarem a Internet para se informarem: na União Europeia 72% dos leitores consomem sites de notícias, jornais ou revistas online, segundo dados do Eurostat referentes ao ano passado.
A popularidade do digital é indissociável das redes sociais. “As pessoas veem muitas partilhas e consomem determinada informação porque lhes aparece na timeline”, nota Inês Amaral, investigadora no Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade da Universidade do Minho. Na esmagadora maioria das vezes, o acesso aos artigos é feito a partir de plataformas como o Twitter, ou de motores de busca como o Google. “Apenas 20% dos acessos são feitos através da entrada direta em sites de notícias”, diz Miguel Paisana, investigador no OberCom – Observatório da Comunicação, citando o Digital News Report 2022 do Reuters Institute for the Study of Journalism.
A dieta noticiosa consumida online depende dos algoritmos das redes sociais. “Se um utilizador interage mais com um determinado assunto, tendencialmente o que vai lhe aparecer no feed são mais coisas sobre esse assunto”, explica Inês Amaral, especialista em sociabilidades nas redes sociais e consumos mediáticos na era digital. É um ciclo vicioso que pode tornar-se perigoso: “Os modelos algorítmicos mostram conteúdos que legitimam a nossa visão do mundo, não tanto conteúdos que fazem questionar as nossas convicções”, complementa Miguel Paisana.
A maior leitura de artigos em formato digital acompanha a queda dos meios de comunicação tradicionais, sobretudo da imprensa, que se vê pelas tiragens dos jornais. Mas a circulação digital paga não está a aumentar de forma significativa para compensar a quebra nos lucros — “é um problema que vem desde o início da Internet e levanta várias questões, porque o bom jornalismo tem um custo”, adverte o académico do Instituto Universitário de Lisboa.
Em Portugal, o pagamento por notícias online não é ainda um hábito enraizado. Poderia dizer-se que, regra geral, as pessoas são reticentes a pagar serviços que existem na Internet, por considerarem que deveriam ser gratuitos, mas tal não é verdade: “Olhando para a economia digital, vemos que os portugueses estão a pagar por conteúdos sobretudo de entretenimento, nomeadamente o streaming de vídeo e de áudio. As notícias surgem num lugar muito inferior”, informa Miguel Paisana.
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