
“A Peça Para Dois Actores” - na qual dois irmãos não conseguem sair de casa – dois grandes actores sobem a palco, Luísa Cruz e Miguel Guilherme. A ver no Teatro da Trindade, Lisboa, até 25 de junho
“A Peça Para Dois Actores” - na qual dois irmãos não conseguem sair de casa – dois grandes actores sobem a palco, Luísa Cruz e Miguel Guilherme. A ver no Teatro da Trindade, Lisboa, até 25 de junho
Quando “A Peça para Dois Atores” se estreou, em 1967 (em Londres), já Tennessee Williams era um autor consagradíssimo e tinha escrito a maior parte das suas peças mais conhecidas.
Esta obra não foi um sucesso, apesar da grande estima que Williams tinha por ela e do enorme trabalho que sobre ela desenvolveu, rescrevendo-a durante anos. É uma peça de “teatro dentro do teatro”, se assim se pode dizer. Dois atores, irmãos, encontram-se num teatro, ao fim de uma longa e cansativa digressão. A companhia deixou-os; toda a gente os deixou; as ligações com o exterior estão fechadas; não conseguem sair. Vão representar, sozinhos, o seu espetáculo, “A Peça para Dois Atores” — na qual dois irmãos não conseguem sair de casa.
Os nomes mantêm-se, nos dois planos de representação, Clare e Felice — os dois irmãos atores, isolados no teatro, e as personagens que eles representam. O dispositivo dramatúrgico é complexo, os planos narrativos problematizam as noções de real e de ficcional nas suas difíceis relações.
Evidente, contudo, é a presença, ou recorrência, de linhas temáticas típicas do teatro de Tennessee Williams — problemas de desequilíbrio psíquico e emocional, claustrofobia e isolamento, medo da solidão, dificuldade em enfrentar a realidade e o mundo exterior. A complexidade temática e dramatúrgica coincide, todavia, com um enorme rigor e com uma extraordinária noção de economia na utilização da linguagem, na construção dos diálogos, na arquitetura global do texto teatral.
Diogo Infante realiza, com esta encenação (a tradução também é sua), um sonho antigo, que vem dos tempos em que, ainda estudante no Conservatório, leu a peça pela primeira vez. Agora, essa vontade é materializada de maneira praticamente ideal, com a interpretação de dois grandes atores, Luísa Cruz e Miguel Guilherme.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt
Assine e junte-se ao novo fórum de comentários
Conheça a opinião de outros assinantes do Expresso e as respostas dos nossos jornalistas. Exclusivo para assinantes